VÍTIMA DE UM COMPLÔ
Ledice Pereira
Jorge acabou de engolir, apressadamente, um
sanduíche de mortadela e voltou toda sua atenção ao trabalho de investigação
que andava tirando seu sono.
De certa forma, era o trabalho mais difícil
realizado naqueles cinco anos de profissão. Envolvia alguém que ele conhecia.
Pior que isso, envolvia alguém por quem ele era totalmente apaixonado.
Nem ele tinha a dimensão dessa paixão. Mas, a
partir do instante em que soube do desaparecimento de Chloé, não teve um minuto
de tranquilidade.
Quem o avisou que Chloé estava sumida há uns quinze
dias foi Eric, um ex-colega de ambos na Faculdade Cásper Líbero, que soube do
caso no jornal onde trabalhava.
A Polícia trabalhava em sigilo, a pedido do pai da
jovem, Eike de Toledo, empresário influente e rico, que fora acusado de
enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, e até suspeito de ter mandado
assassinar sua primeira esposa num acidente automobilístico. Nunca provado.
Tinha passe livre no meio político e grandes amigos
na polícia por onde transitava sem pudores, oferecendo-lhes viagens em seu
jatinho e passeios de iate, além de estadia na casa de praia, em troca de “pequenos”
favores.
Eric soube do desaparecimento da moça por acaso,
quando seu chefe recebeu ligação do Eike seu amigo pessoal, tendo deixado
escapar nomes e transparecer sua preocupação.
Foi fácil fazer associações e chegar ao fato.
Jorge sabia que sua demissão do jornal Folha, onde
se destacava por sua competência e dedicação ao jornalismo investigativo,
devia-se à influência de Eike. Este tentava afastar da filha todos que dela se
aproximavam, e eles tinham se afeiçoado
na época em que frequentaram a Faculdade. Ele tinha certeza também de que a
mudança dela para a Faculdade de Direito se dera por influência do pai.
Desde então,
passou a pesquisar a vida pregressa de seu potencial inimigo. Por outro lado,
sentiu-se perseguido algumas vezes, sem, entretanto, poder confirmar essa
sensação. Mais de uma vez percebeu a presença de figuras estranhas em frente à
sua porta, que procuravam disfarçar quando ele os encarava. Comentou com Eric
sobre isso, mas o amigo não deu a devida importância às suas suspeitas.
Ao saber do sumiço de Chloé, no entanto, Eric resolveu
ajudá-lo nas investigações já que, por não ser tão visado, teria livre acesso à
casa, à faculdade de Direito, ao jornal e à Polícia.
Com os colegas dela, da Faculdade de Direito conseguiu
informação de que há uns dois meses e meio, revoltada, ela decidira morar com Sergio,
seu namorado, também estudante, após uma briga de foice com o pai, que não
aceitou a decisão dela de se casar com o rapaz.
Era voz corrente na escola, que o empresário
colocara no nome da filha, bens adquiridos através de caixa dois e outros
recebidos ilícitos. Ela mesma contou aos mais chegados. E, talvez, essa fosse a
maior razão para ele não querer que ela se casasse.
De posse dessas informações e pesquisando a fundo
tudo que se relacionasse a Eike de Toledo, Jorge, que residiu dois anos em
Genebra, na Suíça onde deixou grandes amigos, jornalistas investigativos como
ele, conseguiu informações sigilosas sobre os montantes investidos pelo
empresário no Banco SYZ SA, em nome dele e da filha Chloé.
Preparou um relatório contendo todos os dados que
apurou e o enviou ao Ministério Público Federal de São Paulo, que já vinha
trabalhando para elucidar desvios de dinheiro público e pagamentos de propina
envolvendo o nome de Eike de Toledo entre outros empresários do ramo.
Enquanto isso, Eric passou a investigar o paradeiro
de Chloé, seguindo pistas que lhe foram passadas pelos colegas dela e de Sergio.
Foram dias de muito trabalho e apreensão. Eric e
Jorge mantiveram-se em contato constante trocando informações.
Nas primeiras horas daquela quarta-feira, Eike e a
mulher Magda foram acordados com fortes batidas na porta.
Seriam notícias de Chloé? ─ perguntava-se Eike
tonto de sono.
Ao abrir a porta de sua mansão, foi surpreendido
por dois agentes federais com um mandado
de prisão aplicado a ele e à mulher, bem como um mandado de busca e apreensão
na residência e escritório da empresa da família.
Eric, que pedira antecipação de suas férias para se
dedicar àquela investigação, seguiu para Montevidéu, de onde acompanhou todo o
desenrolar da prisão de Eike , inicialmente pelo telefonema de Jorge e depois
pelos jornais locais.
No mesmo dia, seguindo pistas, encontrou Chloé que,
apavorada, o recebeu após ter a certeza
de que ele não representava perigo.
Fugira do namorado ao descobrir, após interceptar
um telefonema, que ele era comparsa de sua madrasta.
Foi ela a
responsável pela aproximação dos dois, num momento de fragilidade da jovem.
Obrigada pelo pai a terminar seu namoro com Jorge e
a trocar de universidade, Chloé sabia que se não o obedecesse, a vida de Jorge correria
perigo.
Magda, aproveitando-se da situação, facilitou a
matrícula do amante, na mesma universidade da jovem enteada, para que ele dela se
aproximasse e a seduzisse ganhando sua confiança.
E foi o que aconteceu. Sergio representou muito bem
o papel de sedutor, e não só se tornou confidente de Chloé, como passou a ser
seu par constante. Até que, tempos depois, ela julgou amá-lo. E para se livrar
da pressão do pai e da madrasta, por quem não nutria nenhum sentimento de afeto,
resolveu anunciar que iria casar-se com ele.
Desmascarada, Magda confessou que pretendia fugir
com Sergio, assim que ele conseguisse se apoderar de parte da fortuna de Chloé.
Não afirmou, entretanto, o que seria feito da enteada.
Ela e Eike necessitariam de bons advogados para
diminuir as penas em que incorreriam.
Sergio continuou sendo procurado pela Interpol.
Eric fez questão de acompanhar Chloé em sua viagem de volta, sendo ambos
recebidos por Jorge.
Depois de inúmeras noites insones, Jorge conseguiu
dormir. O toque do telefone acordou-o às dez horas do dia seguinte, com um
convite para que voltasse a trabalhar no jornal Folha, como responsável pelo
jornalismo investigativo. Não é preciso dizer que Eric foi convidado a fazer
parte da equipe.
Se Jorge e Chloé ficarão juntos, só o tempo dirá.
*****
Neste segundo texto foi trabalhada outra versão para o desfecho:
*****
VÍTIMA DE UM COMPLÔ II
Jorge acabou de engolir apressadamente, um
sanduíche de mortadela e voltou toda sua atenção ao trabalho de investigação
que andava tirando seu sono.
De certa forma, era o trabalho mais difícil
realizado naqueles cinco anos de profissão. Envolvia alguém que ele conhecia.
Pior que isso, envolvia alguém por quem ele era totalmente apaixonado.
Nem ele tinha a dimensão dessa paixão. Mas, a
partir do instante em que soube do desaparecimento de Chloé, não teve um minuto
de tranquilidade.
Quem o avisou que Chloé estava sumida há uns quinze
dias, foi Eric, um ex-colega de ambos na Faculdade Cásper Líbero, que soube do
caso no jornal onde trabalhava.
A Polícia trabalhava em sigilo, a pedido do pai da
jovem, Eike de Toledo, empresário influente e rico, que fora acusado de
enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro, e até suspeito de ter mandado
assassinar sua primeira esposa num acidente automobilístico. Nunca provado.
Tinha passe livre no meio político e grandes amigos
na Polícia por onde transitava sem pudores, oferecendo-lhes viagens em seu
jatinho e passeios de iate, além de estadia na casa de praia, em troca de ‘pequenos’
favores.
Eric soube do desaparecimento da filha do
empresário por acaso, quando seu chefe recebeu ligação do mesmo, seu amigo
pessoal, tendo deixado escapar nomes e transparecer sua preocupação.
Foi fácil fazer associações e chegar ao fato.
Jorge sabia que sua demissão do jornal Folha de São
Paulo, onde se destacava por sua competência e dedicação ao jornalismo
investigativo, devia-se à influência de Eike. Este tentava afastar da filha
todos que dela se aproximavam e eles
tinham se afeiçoado na época em que frequentaram a Faculdade. Ele tinha certeza
também de que a mudança dela para a Faculdade de Direito se dera por influência
do pai.
Desde então,
passou a pesquisar a vida pregressa de seu potencial inimigo. Por outro lado,
sentiu-se perseguido algumas vezes, sem, entretanto, poder confirmar essa
sensação. Mais de uma vez percebeu a presença de figuras estranhas em frente à
sua porta, que procuravam disfarçar quando ele os encarava. Comentou com Eric
sobre isso, mas o amigo não deu a devida importância às suas suspeitas.
Ao saber do sumiço de Chloé, no entanto, Eric resolveu
ajudá-lo em suas investigações já que, por não ser tão visado, teria livre acesso
à casa, à faculdade de Direito, ao jornal e à Polícia.
Com os colegas dela, da Faculdade de Direito conseguiu
informação de que há uns dois meses e meio, revoltada, ela decidira morar com Sergio,
seu namorado, também estudante, após uma briga de foice com o pai, que não
aceitou a decisão dela de se casar com o rapaz.
Era voz corrente na escola, que o empresário
colocara no nome da filha, bens adquiridos através de caixa dois e outros
recebidos de maneira ilícita. Ela mesma contou aos mais chegados. E, talvez,
essa fosse a maior razão para ele não querer que ela se casasse.
De posse dessas informações e pesquisando a fundo
tudo que se relacionasse a Eike de Toledo, Jorge, que residiu dois anos em
Genebra, na Suíça onde deixou grandes amigos, jornalistas investigativos como
ele, conseguiu informações sigilosas sobre os montantes investidos pelo
empresário no Banco SYZ SA, em nome dele e da filha Chloé.
Preparou um relatório contendo todos os dados que
apurou e o enviou à Ministério Público Federal de São Paulo, que já vinha
trabalhando para elucidar desvios de dinheiro público e pagamentos de propina
envolvendo o nome de Eike de Toledo entre outros empresários do ramo.
Enquanto isso, Eric passou a investigar o paradeiro
de Chloé, seguindo pistas que lhe foram passadas pelos colegas dela e de Sergio.
Foram dias de muito trabalho e apreensão. Eric e
Jorge mantiveram-se em contato constante trocando informações.
Nas primeiras horas daquela quarta-feira, Eike e a
mulher Magda foram acordados com fortes batidas na porta.
Seriam notícias de Chloé? ─ perguntava-se Eike
tonto de sono.
Ao abrir a porta de sua mansão, foi surpreendido
por dois agentes federais com um mandado
de prisão aplicado a ele e à mulher, bem como um mandado de busca e apreensão
na residência e escritório da empresa da família.
Eric, que pedira antecipação de suas férias para se
dedicar àquela investigação, seguiu para Montevidéu, de onde acompanhou todo o
desenrolar da prisão de Eike , inicialmente pelo telefonema de Jorge e depois
pelos jornais locais.
No mesmo dia, seguindo pistas, encontrou Chloé que,
apavorada, o recebeu após ter a certeza
de que ele não representava perigo.
Fugira do namorado ao descobrir, após interceptar
um telefonema, que ele era comparsa de sua madrasta.
Foi ela a
responsável pela aproximação dos dois, num momento de fragilidade da jovem,
Obrigada pelo pai a terminar seu namoro com Jorge e
a trocar de universidade, Chloé sabia que se não o obedecesse, a vida de Jorge correria
perigo.
Magda, aproveitando-se da situação, facilitou a
matrícula do amante, na mesma universidade da jovem enteada, para que ele dela se
aproximasse e a seduzisse ganhando sua confiança.
E foi o que aconteceu. Sergio representou muito bem
o papel de sedutor, e não só se tornou confidente de Chloé, como passou a ser
seu par constante. Até que, tempos depois, ela julgou amá-lo. E para se livrar
da pressão do pai e da madrasta, por quem não nutria nenhum sentimento de afeto,
resolveu anunciar que iria casar-se com ele.
Desmascarada, Magda confessou que pretendia fugir
com Sergio, assim que ele conseguisse se apoderar de parte da fortuna de Chloé.
Não afirmou, entretanto, o que seria feito da enteada.
Ela e Eike necessitariam de bons advogados para
diminuir as penas em que incorreriam.
O paradeiro de Sergio nunca foi desvendado apesar
de sua foto ter sido amplamente divulgada.
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Depois de inúmeras noites insones, Jorge conseguiu
dormir. O toque do telefone acordou-o às dez horas do dia seguinte, com um
convite para que voltasse a trabalhar no jornal Folha de São Paulo, como
responsável pelo jornalismo investigativo.
Eric fez questão de acompanhar Chloé em sua viagem de volta.
Quando Jorge dirigia-se ao aeroporto para
recebê-los foi surpreendido com a notícia de um grave acidente aéreo.
Sentiu um aperto no coração e acelerou o quanto
pode para chegar o mais depressa possível.
Conseguiu atravessar a multidão que se formava para
acompanhar de perto a tragédia.
A fumaça escura dificultava a visibilidade. As
sirenes ensurdecedoras dos carros de bombeiros e das ambulâncias indicavam a gravidade da situação.
Jorge aproximou-se o quanto pôde fazendo-se valer
de suas credenciais.
As pessoas amontoavam-se nos guichês das companhias
aéreas tentando obter informações que os funcionários não tinham como responder.
Depois de duas horas de agonia, veio a confirmação.
O voo JH314 vindo de Montevidéu e trazendo a bordo, entre outros, Eric e Chloé,
havia se incendiado após forte colisão com um bimotor.
A terra se abriu para Jorge que sentiu as pernas
fraquejarem e caiu.
Medicado, no próprio aeroporto, ao voltar a si, quis
acreditar que tudo não passasse de um pesadelo.
Infelizmente, aos poucos, teve a certeza de que era
um personagem vivo daquela tragédia.
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