BUSCA
Mario
Augusto Machado Pinto
Vendedor-viajante,
percorrendo cidades da minha Zona de Vendas visito comerciantes – numerosos
fregueses da carteira comercial que luto pra manter e outros, sempre outros novos
pra aumentá-la e incrementar meus ganhos.
A
chamada “minha zona” tem Franca como “pião”. É justamente onde estou neste
momento, sentado num banco da praça principal olhando a juventude andar à volta
em dois anéis: um no sentido horário; o outro ao contrário. É assim que se veem
e se iniciam os namoros.
-
Oi Rico, como vai. Não te via há tempos.
-
Oi, tudo O.K.
Aqui
sou “Rico, o vendedor”. Tenho apelido como todo mundo nesta cidade. É incrível,
mas é verdade. É que sou solteirão, tenho carro próprio e fico no melhor hotel.
-
Olha, moço, tava no chão. É seu?
É
um catatauzinho de menino de uns 5, talvez 6 anos balançando alguma coisa perto
do meu nariz.
-
Não sei, digo eu, mas deixa ver. Não, não é.
-
Então te dou de presente. Toma! E jogou aquilo no meu colo.
Disse
que não queria, mas não adiantou; correndo já estava longe.
Era
algo de couro, áspero, desbotado. Pelo desgaste demonstrava ter sido feito lá
pelas calendas gregas.
Vamos
ver: é uma carteira para guardar as notas, mas não tem nenhuma. Mas, tem um
papel amarelado, sujo, bem dobrado com algo entre as dobras. É uma foto que
deve ser antiga. Penso isso pelo vestido e pelo penteado da mulher. Bonitona.
Chama atenção o penteado ornado com cordão de perolas, tudo pra cima, parece bolo de aniversário. O papel é uma carta,
sem data. Pelo tratamento “Querido” é assunto amoroso. Dou uma passada rápida
pelas linhas. Curiosidade nos píncaros. É, é de uma mulher para o namorado
dizendo da sua vida nos últimos meses – meses, imagine – a saudade que sente
com seu afastamento. Pede para não esquecê-la e pra ajudar, junta a foto. No mais diz que quer vê-lo, abraçá-lo,
beijá-lo e vai pelo caminho da escrita que todos namorados percorrem.
Gozado,
ler me arrepia e, incrível, me comove. Meses, coitada, acredita que ainda
durava o bem querer. Mas pergunto a mim mesmo: por que está aqui nesta praça? Será
que foi respondida? Pelo jeito, a anterior, não.
Volto
ao hotel e no silêncio do quarto lembro-me que passei momento semelhante. Minha
namorada não respondeu minha carta e meu bem querer foi escorrendo pelas
corredeiras da vida. Aí me lembrei de que não reparei se havia algo escrito no
verso da folha, atrás da ultima dobra. É não vi, não reparei se estava assinada
ou não.
Pego
a folha e desvirando a última dobra leio: Não se esqueça do meu aniversário. Só
pra lembrar é dia 21. Beijos. Cida.
Comovido
às lágrimas lembro-me da querida do meu coração. Por onde andará?
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