Uma foto de Mulher - Suzana da Cunha Lima

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Uma foto de Mulher
Suzana da Cunha Lima

Um dia, ao caminhar na pracinha, como faço todas as manhãs, notei uma carteira encostada na árvore, perto do banco onde me sentei cansado, ao final do exercício. Peguei-a, podia haver documentos que me permitissem encontrar seu dono. O couro estava bem velho, mas era de boa qualidade.  Fiquei curioso. Uma foto e uma carta bem dobrada. Nenhum dinheiro.

A foto era de uma mulher jovem, muito bonita, olhando para o mar, cabelos revoltos. Sua fisionomia lembrou-me  alguém, há muito tempo. Desdobrei a carta e logo me espantei. Era uma das mais estranhas que já li na vida.

Amor de minha vida
Vou-me embora e para sempre. Não adianta me procurar, para onde eu  vou não se volta. Esta é a foto de tua filha, sim tens uma filha.  Nem eu sei onde ela pode estar.  É bonita demais para passar despercebida, seja para o bem, seja para o mal. A última vez que a vi morava com alguém na Av Atlântica, no Rio. Cheia de mistérios e meias palavras. Nunca me perdoou porque não chegou a te conhecer.  Não era possível e sabe-o bem. Se um dia a encontrar, diga-lhe que sempre a amei, hoje e sempre, Sua M.

E de repente, aquela paixão antiga irrompeu na minha memória. Madalena, de olhos cor de âmbar que se apossou de meu corpo e de minha mente naqueles tórridos meses que eu havia passado no Rio, a trabalho. Paixão tão imensa quanto impossível. Eu era casado.  Voltei para Sampa  e sua lembrança se dissolveu no turbilhão de minha vida agitada. Até aquele dia.  A moça se parecia com ela.

Então eu tinha uma filha! Não era mais casado e não tivera filhos em nenhum de meus relacionamentos. A perspectiva de ter alguém meu, naquelas alturas da vida, me deixou excitado e até encantado. Foi quando um velhinho passou esbaforido, me arrancou a carteira e quis puxar a carta junto com a foto que estava em minhas mãos.  

- Estas coisas são minhas, o garoto me roubou, tirou o dinheiro e jogou aí na grama. Passa a carta e a foto.  – sentou-se perto de mim, suspirando, enquanto dobrava a carta e colocava, com a foto, outra vez na carteira.


- Paixão brava, sabe? Mulher feiticeira, linda de morrer, capaz de endoidar qualquer um...

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