A
LEMBRANÇA DO VELHO CORNÉLIO
Ledice
Pereira
Aos setenta e sete anos, Cornélio era figura
conhecidíssima na pequena cidade de Águas da Prata, onde nasceu e foi criado,
casou, enviuvou e teve filhos e netos.
Os filhos, que estudaram em São Paulo, nunca mais
voltaram à cidade natal, a não ser em algumas festas de fim de ano.
Quem cuidava do velho Cornélio era uma sobrinha que
não se casara e achava por bem, e por caridade, cuidar da casa, da comida e da
roupa do tio.
Conhecido por todos os moradores, ele vivia
cercado, principalmente por crianças, para quem contava histórias de sua vida e
da cidade.
A que mais surtia efeito era sobre um circo que
visitava a região anualmente, armando o picadeiro e permanecendo, ao menos, uns
quinze dias com exibições diárias.
Os olhos de Cornélio até brilhavam quando começava
a descrever as maravilhas que o circo apresentava: os elefantes ensinados que
realizavam tudo que seus domadores exigiam; os palhaços, sempre tão engraçados,
que provocavam a risada da criançada e de seus acompanhantes; os cachorros
dançarinos, de sainha de filó, que se deixavam embalar pelos ritmos tocados
pela bandinha e, o melhor de tudo, os trapezistas que deixavam o público sem
respiração.
Conforme ele contava ia imitando cada um dos
acontecimentos enquanto de seus olhos lágrimas desciam copiosas.
Os poucos contemporâneos, entretanto, afirmavam que
nunca houve circo algum naquelas bandas e que tudo não passava de invenção do
velho que já estava caducando.
Se tudo era fruto de sua imaginação, nunca se
soube, mas para ele tudo acontecera de verdade.
Os mais novos aceitavam como sendo uma realidade
local, cheia de encantamento, que eles desejavam ardentemente que voltasse a
existir naquela cidadezinha tão pacata e desprovida de emoções e atrativos.
***
Capítulo II
Era tão forte a influência do velho Cornélio, que
mesmo depois de sua morte, aqueles que tinham convivido com ele, em sua
infância, passaram a contar aquelas histórias. Colocavam-se, eles próprios,
dentro do circo participando de tudo que ali acontecera.
Contavam que quando o Circo chegava era uma festa.
Entravam na cidade fazendo barulho e anunciando as atrações que aconteceriam
durante o mês: a mulher que engole fogo, o mágico que faz aparecer e
desaparecer objetos, o atirador de facas, a mulher barbada, o domador de leões,
enfim, para eles, o circo teria evoluído, crescido e trazido mais atrações.
Quem mais se encantava com essas histórias eram as
crianças, que nunca tinham visto um circo de verdade.
─ Mas ela era barbada mesmo? ─ perguntavam eles
curiosos.
─ Onde ficavam os leões, não era perigoso? Vocês
não tinham medo deles?
─ Não há perigo dos trapezistas caírem lá de cima?
E eles iam respondendo a todas as perguntas com
tanta verdade, como se tivessem vivido tudo aquilo.
Vejam a importância que há em histórias de Fadas,
Bruxas e Duendes, Papai Noel e Coelho da Páscoa. Tarzan e Homem Aranha. Levam
as pessoas a um mundo de fantasia que as ajudam a viver uma vida mais leve, sem
as agruras a que são submetidas.
Quem nos dera viver num Castelo encantado onde
abóboras se transformam em carruagens!
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