PODER E MORTE - SÉRGIO DALLA VECCHIA

Imagem relacionada

PODER E MORTE
SÉRGIO DALLA VECCHIA

Leonardo lia intensamente Sherlock Holmes na varanda de um badalado café, na cidade de São Paulo. O texto estava tão interessante que nem percebeu que na mesa ao lado havia uma esbelta loira, vestindo saia curta que deixava as torneadas pernas se exibirem sem pudores.

Ele só sentiu a presença dela, porque uma buzina na rua lhe tirou a concentração. Virou-se e encontrou dois lindos olhos verdes mirando em sua direção. Foi um olhar fulminante! Atingiu-o em cheio.

Nesse mesmo instante, Sofia lia um livro de psicologia, quando também se voltou em direção ao estridente som. Despretensiosamente cruzou o olhar com o dele, enquanto seu corpo respondia de imediato a presença do sexo oposto.

Passado o susto, rapidamente os dois voltaram às respectivas leituras.

Após um tempo, Leonardo chamou o garçom, pagou as duas contas e pediu a ele que entregasse o seu cartão de visitas para a moça, e em seguida retirou-se.

Leo, era um jornalista investigativo destemido, astuto e sagaz. Já respondia no meio policial e jornalístico pela fama de expert, tal o sucesso nos desvendamentos de crimes. Quando se envolvia em uma investigação não havia nada que o detivesse. Sempre ia até o fim e com sucesso.

Ele já havia iniciado um novo caso sobre o modus operandi da família do Dr. Frederico, um empresário praticante de malfeitos fiscais, formação de cartel, lavagem de dinheiro e outros.

Era muito bem-sucedido no ramo de laboratórios químicos. Grande parte da sua fortuna foi conseguida através de negócios escusos em diferentes áreas de atuação. Como pai de família também era mau caráter. Sua índole violenta era conhecida. Havia suspeitas de que ele teria assassinado a esposa num passado recente.

A Polícia já o monitorava há alguns anos e Leo como era bem relacionado com os policiais, constantemente trocava informações sobre esse caso. Podia-se dizer que trabalhavam em conjunto.

Dr. Frederico era o pai de Sofia, sua única filha. Era cauteloso com as suas propriedades e passava toda a documentação em nome dela.  
 
A expectativa de um bom casamento era paranoica. Esta por sua vez era muito culta e desinteressada, não conseguia se envolver com ninguém embora tivesse bons relacionamentos.

Certo dia Sofia resolveu ir a um Sebo em busca de um livro antigo. Em procura de algum atendente entrou em meio às prateleiras apinhadas. Não surgiu ninguém! Retirou ao acaso um livro e começou a folheá-lo. Já estava entretida quando surgiu um rapaz vestindo um macacão despretensioso, meio empoeirado, cabelos despenteados e com um largo sorriso no rosto.

—Posso ajudar?

Sofia após um pequeno susto, respondeu com um sorriso tão sincero quanto ao do rapaz:

 — Pode sim, preciso do livro de Freud, intitulado Além do Princípio do Prazer, editado em 1920.

— Legal, já vi que você é papo cabeça e vamos nos dar bem. Tenho um lote de livros a serem catalogados e acredito que nele encontraremos o seu livro.

— Quer vir comigo ao mezanino procurá-lo?

Sofia ficou empolgada, mas por timidez não aceitou o convite. Desculpou-se e pediu para que ele o procurasse e que ela voltaria no dia seguinte.

Na manhã seguinte lá estava ela e novamente não encontrou ninguém, mas foi entrando. A curiosidade feminina a empurrava para adiante até que olhou para o mezanino e viu uma porta aberta.

— Ei loira, suba aqui estou procurando seu livro.  

Sofia com o coração acelerado subiu a pequena escada e entrou no quartinho.

A cena era idêntica às alcovas dos grandes gênios da Renascença. Uma cama, uma mesinha, uma garrafa de vinho aberta, livros e mais livros! Moradia do intelecto e da carne!

Logo os dois focaram no lote de livros. Rafa pegava um e passava-o para Sofia e com esses movimentos por vezes as mãos se tocavam e a sensação agradável era recíproca. Os rostos também se esbarravam vez em quando até que, como faísca em pólvora surgiu um caloroso beijo. Depois mais carícias, o vinho, a cama e o prazer total.

Foi uma paixão à primeira vista! Eles exalavam satisfação!

E os encontros continuaram com frequência em busca do tal livro.

Certo dia, Sofia sob efeito da paixão e convicta de suas palavras disse ao Pai:

—Pai agora encontrei um amor e quero me casar.

Dr. Frederico, quando soube que se tratava de um rapaz que não possuía nada além da simpatia, ficou possesso.

—Filha, esse casamento é impossível. Você sabe muito bem o que penso sobre esse assunto. Não, não e não! Prefiro vê-la morta a casar-se com esse Zé Ninguém.

Deu as costas à filha e saiu blasfemando inconformado!

Desiludida e com a mente confusa tomou uma atitude radical,  fugiu de casa.  Deixou um bilhete dizendo que iria morar com o namorado. Não deixou endereço algum, apenas sumiu.

Após uma semana do desaparecimento, surgiram rumores de seu possível assassinato.

O caso foi tomando corpo tanto na polícia como na imprensa.

O repórter Leo já tinha como suspeito número um o Dr. Frederico. Estava convicto, e também a polícia,  de que o pai era capaz de fazer qualquer coisa quando contrariado.

Entretanto a polícia descobriu o endereço do Sebo onde Sofia teria ido morar. Fizeram uma diligencia e lá encontram o Rafael, o rapaz do sorriso largo em meio aos livros. Levaram-no para depor na delegacia.

A surpresa foi grande, ele disse que ela ficou apenas um dia e o deixou. Ainda confusa e com o pensamento distante lhe disse que iria mudar de vida e foi embora sem dizer o destino.

A polícia ainda insistiu. Fez uma varredura no quartinho do Sebo e nada de evidencias e logo o rapaz foi liberado.

Agora o foco da investigação era o pai.

O Dr. Frederico foi levado a depor na delegacia. Acabou se complicando com as respostas e pelo seu histórico criminal e acabou sendo indiciado.

Foi mantido preso por medida cautelar, enquanto a Polícia continuava na busca de novas provas.

Abatido e desmoralizado ele não conseguiu suportar a perda do poder e a vida na prisão. Sofreu um mal súbito que o levou a óbito.

Enquanto isso em uma praia distante na Nova Zelândia, Sofia recebe uma mensagem eletrônica que dizia:


Seu pai está morto! Pode voltar para o Brasil, estamos ricos e até que enfim juntos, minha querida Freudiana dos olhos verdes.  - terminou o texto Leo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário