Armadilhas do inverno - Ises de Almeida Abrahamsohn

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Armadilhas do inverno
Ises de Almeida Abrahamsohn

Medeiros já saíra de casa atrasado para pegar o trem para Berlim. Naquele frio, o motor do carro demorou a funcionar. Guiava mais rápido do que de costume naquela manhã lúgubre de janeiro. Era o pior mês do ano. O frio de rachar fazia as poças d´água na estrada congelar e, de repente, você não conseguia controlar o carro. Mas ele era experiente e conhecia bem a rodovia. Sabia que logo adiante haveria uma curva acentuada para a direita. Reduziu para começar a acelerar ao entrar na curva.  Foi quando avistou, postada no meio da pista, alguém de casaco vermelho agitando os braços. Pisou no freio:

  Que espécie de idiota fica assim no meio da estrada!  Quer ser atropelada?

Pisou de novo.... Foi quando o carro deslizou incontrolado para a esquerda. Sentiu o estômago se contrair...  Resistiu à tentação de frear, sabia ser inútil, e agarrou o volante. Rodopiou pensando apenas em não atingir a idiota de casaco vermelho.  Finalmente o veículo parou.  Medeiros passou a mão pela testa molhada de suor: Cadê a moça meu Deus onde estará debaixo do carro claro que não acalme-se cara não houve nenhuma pancada teria ouvido se a tivesse atingido....  Levantou a cabeça e fixou o olhar na estrada. Deu-se conta que o carro girara 180 graus.

Foi quando pelo espelho viu o casaco vermelho de pé no monte de neve acumulado no acostamento. Uma onda de alívio percorre-lhe o corpo. Piscou os faróis e manobrou o carro. A garota se aproximou da janela:

Que susto, hein?

Me dá uma carona até a estação?

Medeiros ia largá-la lá, mas ficou com pena... Sabe-se lá quando passaria outro carro naquele dia inóspito e congelante.

Apenas grunhiu:

Sim, entre, também vou para lá.


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