CONTA GOTAS - Maria Luiza Malina


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CONTA GOTAS
Maria Luiza Malina

Hoje olho para trás e vejo o quanto me foi difícil passar os dias na desesperança de um contato diário com um filho ou outro, sem que houvesse alguma conotação de fofoca. Por muitas vezes eu incitava, não nego, queria saber como ele estava sobrevivendo sem as paparicações  transformadas em chatices como ele mesmo dizia.

Chega um dia em que somos descartadas ou, melhor dizendo, dia a dia somos descartadas sem percebermos que isto está acontecendo, ou não melhor dizendo, não aceitamos que isto pode estar acontecendo à conta gotas.

Sentia aos poucos, não nego, certo afastamento pela falta de diálogo e implicância; os filhos crescendo e eu os defendendo; os filhos se formando e eu os defendendo, os filhos fazendo suas escolhas e eu os defendendo; os filhos se casando e eu não mais os defendendo.

Cada um por si. Foi assim que tudo aconteceu. Cada um por si. Fiquei só. Cada um por si. Academia dança suor e cerveja – não me levaram a nada. Eu precisava reencontrar a mim mesma. Ah! Yoga. Não, nada estava em ordem. Ajuda médica. Sim, foi o início de uma desintoxicação familiar.

Retornei ao caminho das praias. Apanhei conchas desusadas, montei novos quadros dando-lhes uma nova utilidade. Compreendi no descarte o poder da vida contida e não aproveitada. Aproveitei. Revivi. Vivi na sabedoria das conchas, tendo a certeza de que encontraria a praia certa para descansar.

Venci. Hoje não olho para trás.

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