A CARTEIRA DE YOLANDA - Maria Luiza Malina


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A CARTEIRA DE YOLANDA
Maria Luiza Malina

Ganhar em jogos de azar sempre foi o desejo de Laura. Encontrar uma carteira não estava em seus planos. Tornar-se guardadora de coisas alheias, era só o que faltava. Deixou para o dia seguinte resolver o caso da carteira de couro de jacaré, cujo nome Yolanda aparecia numa carta sem data e um tanto manuseada, que envolvia a foto.

Laura não é do tipo que vasculha a vida das pessoas. No trajeto para o trabalho lembrou-se do ocorrido, sentiu-se meio culpada por não ter trazido a mesma consigo e a entregar na Delegacia do bairro. Mais uns passos e, foi tomada de surpresa ao se lembrar de um sonho que tivera: caminhava com um rapaz de mãos dadas por um campo, era um sonho agradável, mas não o conhecia. Ao chegar a escola onde lecionava, contou sobre a carteira e se alguém conhecia uma senhora com o respectivo nome. Assim passou o dia. Em casa guardou a carteira na mochila e no dia seguinte a entregou ao carteiro, conforme indicado.

Naquela noite, como nas demais passou a sonhar com o rapaz estranho. Chegava rápida em casa como se ele a estivesse esperando. Recolhia-se mais cedo e logo dormia e o sonho se repetia. Um tanto intrigada procurou ajuda. Naquele mesmo dia  re encontrou o carteiro que lhe devolveu a tal carteira afirmando que localizara muitas Yolandas mas, não pertencia a nenhuma. Aceitou um tanto inconformada.

Não foi direto para casa. Foi ao supermercado para compras e, algo estranho aconteceu: a imagem do rosto da senhora da foto era projetada em todas as senhoras para as quais olhava. Pensou estar delirando. Apressou-se nas compras e tomou o rumo de casa quando ouviu a buzina de um carro. Tudo ficou escuro. Dois dias depois acordou no hospital. Uma enfermeira a ajudou na higiene tomou o café da manhã e pediu que não se levantasse sem autorização médica.

Cochilou. Sonhou com o rapaz que lhe estendia a mão. Acordou num sobressalto, sentando-se na cama. Um médico a sua frente. O mesmo rapaz de seu sonho lhe estendia a mão para ajudar a fazer os testes de equilíbrio. Atordoada, não sabia o que era real. Rompeu em choro desesperador e contou a repetição dos sonhos, na ingenuidade disse parecer-se com ele e, que tudo acontecera após encontrar uma carteira com uma foto da senhora Yolanda que, tentava devolver e não a encontrava.

O médico suspirou. – Enfim encontrei a carteira que perdi. Era a única foto de minha mãe Yolanda já falecida. Peço que se acalme. Vamos por partes. Primeiro os testes de equilíbrio e os demais. O relatório da enfermeira diz que sua saúde está perfeita, e continuou estendendo a mão: - Agora fale de você.

Neste instante, ao se colocar em pé olhando para o chão, viu no tornozelo do médico o invisível fio vermelho de que tanto diz a lenda chinesa, que “ao nascer, os deuses identificam as almas gêmeas com um fio vermelho no tornozelo e que jamais, haja o que houver, ele será rompido e as almas de encontrarão”.

- Eu sou Laura, apenas Laura e você quem é?


- Sou Lauro, apenas Lauro. Posso te acompanhar a sua casa?

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