FOI O CARTEIRO QUE DEIXOU POR BAIXO DA
PORTA
Oswaldo
Lopes
Só
acontece se a sua casa tiver a porta da entrada direto na rua. Se ela tem
jardim na frente, terá caixa de cartas. Se for apartamento o zelador é quem
recebe a correspondência.
E lá estava ela esparramada no hall de
entrada. O carteiro a enfiara por baixo da porta. Era carta aérea, o envelope
era dos antigos que tem a borda colorida, como que refazendo a bandeira do país
de origem, no caso vermelho e verde. É com certeza uma carta portuguesa,
pensou.
Abaixou-se e pegou-a, estava endereçada
a Célia Gusmão do Amarante, no endereço dele com CEP e tudo. Só que ali, não
morava ninguém de nome Célia e ele não conhecia nenhuma Célia, embora os
Amarantes não fossem tão estranhos. Conhecia vários.
O remetente chamava-se Antônio do
Amarante e morava ou escrevia da cidade de Óbidos o que confirmava ser a carta
portuguesa.
Silvio ficou ligeiramente perturbado.
Ainda por cima o gajo carimbara nos dois lados do envelope a palavra URGENTE e
grifara com força. Pensou uma vez e na segunda abriu o envelope, três folhas de
papel saltaram em suas mãos, todas em branco!
Aquilo estava ficando irritante. Era
evidente que o autor da carta não era analfabeto, o endereçamento e o remitente
estavam muito claros e a letra era firme e sólida. E se alguém escrevera para
ele? Bem e dai? Porque colocou três páginas em branco dentro?
Não conseguia pensar em outra coisa,
lembrou-se então entre outros Amarante do Joaquim Amarante, advogado que
conhecera no clube há alguns anos atrás e de quem ficara amigo. Resolveu
procura-lo.
─
Alo Joaquim? Quem fala é o Silvio lá do clube
─
Alo Silvio o que manda?
Explicou o mistério e teve a primeira
surpresa: Célia Gusmão do Amarante era cunhada do Joaquim, casada com um irmão
dele, Antônio que se mandara para Portugal fazia tempo. A história era
incrível, por mais que fizessem nunca
conseguiram localiza-lo. No entanto, regularmente ele enviava quantias
apreciáveis, às vezes até vultosas de dinheiro, em espécie, por portadores que
nada explicavam ou sabiam explicar.
Célia se acostumara com aquela situação
e tinha uma vida até confortável. Morava na Alameda Dino Bruno e ele na Alameda
Dino Bueno, mesmo número, mesmo CEP, de acordo com as informações que Joaquim
lhe passara.
De posse do telefone dela, fez a ligação
de imediato e explicou o acontecido caprichando nos detalhes. Ao fim perguntou:
─
Você entendeu essa carta?
─
Entendi, foi a resposta ouvida num sussurro baixo.
A voz era quase inaudível e ele sentiu,
mais do que ouviu, as lágrimas que corriam pelo rosto dela.
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