INVISIBILIDADE
Yara Mourão
A aula
de física no laboratório da escola geralmente era maçante e interminável. Mas
naquele dia, junto com as projeções de ótica, algo pareceu muito interessante
para Júlio. Havia uma ligação de fórmulas matemáticas a composições químicas,
que iam num espectro da refração da luz até que uma lâmina de matéria se
formasse. Essa lâmina tinha duas faces: uma positiva e outra negativa, e a
capacidade de tornar invisível o que ela envolvesse na face positiva e tornasse
a mostrar a realidade na sua face negativa.
Júlio
projetou ao infinito o alcance dessa maravilha.
Tornar
invisível algo material, sólido e depois reverter o resultado! Não era mágica,
era ciência pura. Ele precisava se apoderar disso imediatamente, antes do baile
de formatura.
Por
algumas noites Júlio não parou nem para dormir. Leu todas as apostilas, os
livros da biblioteca da escola, as anotações dos cadernos, as fórmulas e tudo o
que encontrou sobre o assunto.
Tanto
empenho teve sua recompensa.
Conseguiu,
com suor e lágrimas, manufaturar uma película bipolar; lado A, tornava algo
invisível e lado B devolvia algo á realidade. Perfeito para o uso. Perfeito
para suprimir a presença de Bruno, o tal do “gatão”, como as meninas falavam.
Baile sem Bruno era noite de gala! Larissa, princesa, estaria próxima dele sem
a sombra incômoda do Bruno.
Chegada
a data do baile, Júlio se esmerou nos preparativos, cuidando muito da
aparência, do penteado; disfarçou como pode as espinhas do rosto. Tudo ótimo.
No
bolso da calça, dobrada em quatro, estava a película, obra genial dele próprio,
criada para o bem, mesmo que por alguns instantes pudesse causar o mal. Mas
isso não estava em questão no momento. O que era importante era sumir com Bruno
e ficar com Larissa. Talvez, depois, ele pudesse ganhar o Nobel de física, de
química, ou seja, lá do que for...
Chegando
no baile, deu de frente com a princesa, linda, um sonho de garota. Foram
conversando em direção ao salão, tranquilos, até que, saindo de trás de uma
mesa, surgiu Bruno.
Foi um
minuto de hesitação. Mas logo Júlio tirou do bolso a película e em gestos
longos, precisos, envolveu o menino que em segundos sumiu! Ninguém viu!
Assim
se fez a noite mais linda da vida de Júlio, o gênio da fantástica criação
daquele ano na escola!
Só que
a película nunca mais se desfez...
E
Júlio, coitado, identificado como assassino pseudocientífico, foi aprisionado e
condenado a passar anos de sua vida num laboratório trabalhando num projeto
denominado: Desconstruindo a Invisibilidade!
Nenhum comentário:
Postar um comentário