Adolpho, o Robô
Ledice Pereira
Gil nascera curioso. Desde muito pequeno parecia
observar tudo de forma detalhada. Isso chamava a atenção dos pais e dos avós.
Quando foi para a escolinha infantil, destacava-se
das outras crianças por sua maneira atenta com tudo que acontecia ao seu
redor.
A professora ficava encantada com o entendimento do
menino apesar da pouca idade. Enquanto os demais faziam inúmeras perguntas sobre
o assunto, Gil entendia na primeira explicação.
Foi crescendo e se desenvolvendo, ensinando o Guy,
seu irmãozinho, tudo que sabia.
Os dois eram inseparáveis e à medida que cresciam,
iam descobrindo o mundo de novidades que se descortinava à sua frente.
Vários brinquedos eram desmontados para saber como
eram feitos, principalmente, os brinquedos eletrônicos, cujo conteúdo e
maquinário causavam curiosidade em Gil e consequentemente em Guy.
Gil cursou o ensino básico sem nenhum tipo de
problema e, ao entrar no ensino fundamental, como matéria extracurricular,
escolheu Robótica, assunto que o fascinava.
Guy, dois anos e meio mais novo, era um aluno
dentro da média, tranquilo, gostava de matemática e ciências e era muito
enturmado com os colegas, fazendo parte do time de futebol da classe.
O novo desafio de Gil era construir um robô. Isso o
excitava a ponto de ter dificuldade para pegar no sono. Falava no assunto o
tempo todo, reunindo-se com um grupo de colegas, como ele, muito eufóricos.
Durante semanas, reuniram-se na casa de um deles
para idealizar a construção do tal robô. A ideia era fazê-lo com corpo e
movimentos que imitassem o ser humano.
O professor, apesar de entusiasmado com o grupo,
procurava mostrar a realidade, fazendo com que tivessem os pés no chão, não
dando passos, maior que a perna.
Certa noite, já na cama, contava para Guy sobre o
andamento das pesquisas e experiências que estavam tendo, procurando desenhar o
protótipo de robô que haviam idealizado e que se chamaria Adolpho, o qual
pretendiam construir com a ajuda de uma impressora 3D, existente no escritório
do pai de Jorge, um dos integrantes do grupo.
Andava tão cansado por tantas noites mal dormidas, que
adormeceu repentinamente, ainda quando falava com o irmão.
Logo, várias figuras povoaram sua mente, num
turbilhão de imagens desconexas que o atropelavam desordenadamente, sem
controle.
O garoto gemia e parecia querer se soltar sem que
conseguisse. Queria gritar, mas a voz não saía, debatia-se em desespero,
levando Guy a perceber que algo grave acontecia, indo chamar a mãe que
prontamente o acompanhou até o quarto.
Ela tentou acalmar o filho que suava, preso às
cobertas que o impediam de se movimentar.
Aquele abraço o acalmou. Abriu lentamente os olhos,
buscando o aconchego do peito materno. Estava molhado, assustado, ofegante,
cansado.
O pai, percebendo a movimentação, veio juntar-se ao
grupo para ouvir o que o menino contava sobre o sonho que tivera com Adolpho, o
robô, por eles construído, que havia adquirido vida própria e passado a
comandar a vida de todos, determinando o que fazer e dominando o pensamento de
cada um. No sonho, ele se revoltara, enfrentando Adolpho com quem tentara
lutar, sem êxito, pois o robô parecia ter inúmeros braços que o imobilizavam
sem que pudesse defender-se.
Um chá calmante quentinho, feito carinhosamente
pela mãe, ajudou-o a voltar a dormir.
Dessa vez, felizmente, sem sonhar.
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