Querido, traga o jantar!
Angela Barros
Ainda era cedo, por volta das sete horas da manhã, de
uma sexta-feira, quando Fernanda acorda, passa a mão pela cama e percebe que
Ricardo, seu namorado, não está. Por que será que ele não me esperou? Pula da
cama, põe a roupa de corrida. Aperta o botão do elevador que parece demorar uma
eternidade para chegar. Ainda no elevador, calça o tênis, abre o aplicativo runkeeper,
ajusta para uma corrida de 10 quilômetros e sai correndo para o Parque
Villa Lobos que fica ao lado do seu prédio. É lá que os dois treinam todas
segundas, quartas e sextas, religiosamente, faça sol ou chuva.
Chegando
lá precisa decidir para que lado
ir “se ele foi pela direita e eu também for, nunca vou conseguir encontrá-lo”.
Decide ir pelo lado esquerdo, geralmente é por
esse lado que ele vai, dessa maneira vamos nos cruzar em algum momento.
Uma
volta completa, nada. Duas voltas, nada. Na terceira volta decide entrar na
trilha do bosque, é raro mas as
vezes passam por lá. Tropeça numa pedra, quase cai. O suor já escorre pelo
rosto se misturando com as lágrimas. Raios de sol que começam a aparecer e
passam através das árvores batem direto nos seus olhos, na correria esqueceu os
óculos e a viseira cegando a corredora. Quando volta a enxergar, não acredita
no que vê. É o Ricardo ali? Fernanda para, tenta, mas não consegue se mover,
está paralisada
Depois
de segundos que pareceram uma eternidade, ela se recompõe, corre até uma árvore e se esconde. E assim, ela o
espreita por trás da árvore. Safado! Quem é
aquelazinha? Seu impulso é correr para desmascarar o sem vergonha mas não
o faz. Dá meia volta e correndo o mais rápido que pode volta para o
apartamento, toma um banho rápido se veste e vai trabalhar.
O
celular tocou o dia inteiro, era Ricardo, ela ignorou, a raiva era grande,
precisava se acalmar, decidir o que iria fazer. Afinal, gostava demais daquele
safado. Não conseguia se
concentrar no trabalho. Marina sua sócia perguntava o que tinha acontecido, está
doente? Por que está tão calada? Não é nada, respondia. Estou de TPM só isso.
Mas sua cabeça estava a mil, uma pergunta girava na mente: o que faço, meu Deus?
Até que no final do dia, resolveu. Vou me vingar desse
desgraçado que ajudei de todas as maneiras quando o conheci. Estava
desempregado, acionei meus amigos e arrumei emprego para ele. Morava de favor
na casa de um amigo, levei o safado para meu apartamento. Dei casa, comida,
roupa lavada e o que ganhei em troca? Traição.
Finalmente
às dezenove horas, quando mais
uma vez toca o celular, é mais uma chamada do Ricardo. Alô querido,
desculpe, o dia foi uma loucura
simplesmente não conseguia atender nenhuma ligação hoje. Lembra o caso de divórcio
dos Ferreira, finalmente eles fizeram um acordo, caso encerrado. Você pode
passar naquele restaurante japonês que a gente adora e levar o jantar?
Combinado!
Fernanda
vai correndo para casa. Chegando lá, tira todas as roupas do namorado do armário, muitas roupas que ela
tinha comprado para o safado. Pega uma tesoura, corta em tiras uma após outra,
calças, camisas, paletós, até as cuecas recebem tesouradas raivosas, que são
colocadas num saco de lixo e jogadas da janela para a rua. Isso feito, liga
para o namorado.
Para
variar espera vários toques
até que o traidor atende. "Ricardinho, querido, não precisa trazer o jantar,
pode levar para a fulaninha que estava com você no parque hoje. Quando quiser
passe na frente do prédio e pegue suas coisas, vai ser fácil encontrar. Ah,
mais uma coisa, não precisa se preocupar em devolver as chaves, já mandei trocar
as fechaduras. Safado! Nunca mais apareça na minha frente!".
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