CAMPAINHA DA CASA DE
HEITOR.
MÁRIO AUGUSTO MACHADO
PINTO.
A
campainha toca sem parar. Heitor demora pra acordar, reluta na cama. A noite
parece não ter acabado. O tocar é insistente, contínuo. Que chatice, murmura
reclamando. Essa gente não respeita o descanso dos outros? Difícil tirar a cabeça
dos travesseiros. Ai, o cheiro dos
cabelos da Marcela paraíso que frequento de vez em quando. Levanta-se e se
espreguiça. Já vou, já vou. Ia, mas era aos tropeções pelo corredor que dá pra
escada devido às alpargatas que fazem vezes de chinelo insistirem em sair dos
pés. Outra vez, forçou calça-las. Agora
o mindinho se enrosca e o impede de andar mais rápido. Diabo, que se dane, seja
lá quem for. Vou sem. Não titubeou, chutou longe uma delas e por pouco não caiu
no ato ao segurar o calção que se enroscou nas pernas. E se caísse o calção? Ora,
nada aconteceria. Só estou eu, ninguém mais e além de tudo se houvesse mais
alguém iria ver o que já conhece. Não seria novidade.
As
chaves, onde estão essas malditas chaves? Calma, murmura, não afoba. Olha, dá
os pulinhos pro Santo. Qual? Aquele. Não sei quem. Isso lá é hora? Encontrar as
chaves, o resto não interessa. Não encontro as chaves, ouviu bem? Um momento! Para
de tocar a campainha, por favor.
As
chaves, as chaves, cadê as chaves? Malditas, aqui, ó, aqui. Tinham que se
esconder atrás do pé da cadeira? Não são elas, desgraçadas, essas são do Flip. Madona
santa, onde estão as da porta? Chave mestra, dá a luz! Anda, anda. Achei. E
isso lá é lugar pra ficar? Se escondendo do que, suas chatas? Caramba, socos na
porta! Putz, quem será? Bem que a Lulu disse pra colocar um “olho de gato”. É
pra essas horas. Já poderia saber quem é. Teimoso, agora aguenta a campainha e
o vizinho que depois vai reclamar do barulho, velho chato, magricela de uma
ova.
-
Como é, vai abrir? Anda logo com isso ou tá se borrando?
Papagaio,
o Nico namorado da Marcela. Vai dar bode e dos grandes. O negócio é dizer que
não encontro as chaves e ver o que dá.
-
Não encontro as chaves. O que Você quer? Aconteceu alguma coisa ruim?
-
Sim, não encontro a Marcela. Achei que tava com você, seu cachorrão. Já vi que não, mas hoje ela vai tomar chá,
isso vai.
E
lá se foi o Nico.
Ela
volta logo mais à noitinha.
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