Paixões
desvairadas
Ises de Almeida Abrahamsohn
Jussara tinha dezesseis anos quando começou a namorar Alcides,
e dezoito quando se casaram contra a vontade dos pais dela. Bem que a mãe avisara sobre o rapaz que tinha
fama de paquerador e não era muito chegado ao batente. Mas a moça era irredutível
na sua paixão desvairada pelo belo namorado de cabelos escuros e olhos verdes. Pois a mãe estava certa. Dois anos após o casamento, o Alcides já dava
as suas escapadas noturnas ou diurnas. E
pouco depois Jussara teve que começar a trabalhar para sustentar a casa e os
dois filhos. O galã não parava nos empregos, empenhado que estava na carreira de sedutor.
Apesar das atividades extraconjugais o malandro não descuidava de, em casa, manter
a chama acesa. Para desespero dos pais e
amigas, Jussara continuava apaixonada. Ver os dois juntos deixava os conhecedores da
falta de caráter de Alcides especialmente irritados. O rapaz esbanjava carinhos,
beijinhos, segredinhos, olhares profundos e tudo o mais...
Quando a mulher se
queixava das ausências ou possíveis infidelidades, as mágoas eram logo
reparadas com flores, presentes e o arsenal de sedução que a mantinha
enfeitiçada no leito e fora dele.
Mas, nos últimos seis meses pouco a pouco os carinhos,
atenções e, sobretudo, os êxtases noturnos
foram minguando. Primeiro pensou em doença, motivo logo descartado. Jussara sentiu que estava perdendo a
parada para outra com mais atrativos do que ela. Seguiu o carro do
marido até uma praça, onde o viu entrar em um café. Decerto era lá que se encontrava com a zinha.
Mas, nunca conseguia ver a rival.
Depois de segui-lo
por duas semanas, instalou-se atrás de uma árvore de onde podia ver a outra porta
do café que abria para a rua lateral
. ̶ Safado! Ordinário!
Quem é aquelazinha que ele abraça? Não deve ter mais que vinte anos... Siliconada,
tenho certeza...
Olhou de novo e
reconheceu. Era a filha do dono da rede local de Supermercados!. Tinha visto a
foto no jornal. Além de linda, a garota era rica. Jussara sentiu a cabeça girar
e escorregou até se sentar na grama. Na boca veio-lhe um gosto amargo de bile.
Entrou no carro e dirigiu automaticamente até em casa. Enquanto revia o passado,
a raiva aumentava. No quarto fitou
longamente a cama conjugal e a raiva deu lugar ao ódio. Desvairada e tremendo desceu as escadas e na
sala esperou atenta o ruído da chave na porta da frente.
Os vizinhos encontraram
Jussara chorando, ainda com o revólver na mão. O tiro acertara Alcides no peito. Caído, os olhos já não viam,
mas ainda conservavam o ar de espanto.
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