MAMÃE, NÃO VÁ!
Ledice Pereira
Como
é bom quando a mamãe está em férias. Adoro cada momento que passamos juntas. Em
viagem, ou por aqui mesmo, quando ela me leva ao Parque da Água Branca e
jogamos peteca. Corro pelo parque sabendo que ela está sempre ali por perto, me
protegendo, me dando carinho. Minha maior amiga, como diz meu pai.
Ela
não mede esforços pra cuidar de mim e me fazer feliz. Nossa ida para Ribeirão
Preto, pra casa do tio Juca, irmão dela, por exemplo, foi pra eu me fortificar.
Ela disse que eu estava com anemia.
Não
sei muito bem o que é isso, mas deve ser sério. Ela ficou muito preocupada.
Disse que iríamos para o interior para que eu tomasse ar puro e comesse coisas
saudáveis.
Meu
tio e minha tinha Margarida são muito legais. Naquela casa tem galinheiro e
eles matam o bicho na hora pra cozinhar no fogão à lenha.
Não
gosto de galinha. Mas gostei de peru. Agora eles fazem sempre peru só pra eu
comer. Muito bom.
Custo um pouco pra engolir. Sabe, acho muito
chato ficar ali na mesa mastigando.
Meu tio fica bravo, mostra um rabo de tatu
que ele tem e diz que se eu não comer tudo vai usar o danado.
Acho que ele não tem coragem. Em todo caso,
tento mastigar um pouco mais e engolir. Perde-se muito tempo comendo.
Ontem
a empregada achou um escorpião na casa. Disse que os escorpiões andam sempre em
dupla e ficou procurando o par. Não achou.
Minha
mãe foi dormir preocupada. Rezou pra Santa Therezinha do Menino Jesus cuidar de
mim.
Quando
estávamos dormindo, ouviu uma voz chamando-a:
─
Amelinha! Amelinha!
Levantou-se
e foi ver quem a estava chamando. Não havia ninguém.
Arrumou
minhas cobertas e verificou se eu estava dormindo.
Pela
manhã, a empregada retirou as roupas de cama para lavar e encontrou o escorpião
nos meus lençóis.
Mamãe
disse que Santa Therezinha ouviu suas preces e me protegeu.
Não
sei se é verdade, só sei que passei a rezar à Santa desde então.
Passamos
três semanas em Ribeirão. Fiquei corada e engordei. Mamãe ficou mais tranquila.
Voltamos a São Paulo porque ela precisava voltar a trabalhar.
Toda
vez que ela volta a trabalhar sinto muita falta dela e choro. Vejo lágrimas nos
olhos dela também e peço, chorando:
─
Não vá, mamãe, não vá!
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