MORTE SUBITA: Eis que se fez noite e ainda era dia - Oswaldo U. Lopes



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MORTE SUBITA: Eis que se fez noite e ainda era dia
Oswaldo U. Lopes

         Intimidado desci do carro, achei que era o fim do sequestro. Deu para ver que a estrada era de terra e em volta mato alto. Um capuz cobriu minha cabeça, tudo ficou escuro e eu meio tonto. O estampido me sacudiu quando a arma disparou, sinto o sangue encharcando minha camisa na altura do peito.

        Então era isso a morte. Sem nem saber por quê. Não havia resistido, fizera como os conformes. Naquela escuridão confusa, tive a sensação de entrar num túnel.

        Porque seria importante saber por quê? Morrer sem sentido era o fim da picada, aqui literalmente, não ia sair mesmo dessa picada para onde me trouxeram.

        Roubo? Mas eu não resistira!

        Motivos políticos. Andei militando durante a ditadura, mas já faz tanto tempo. A Anistia veio para todos e os chefes da repressão estavam todos mortos ou aposentados.

        A nova direita? O pós-moderno? O PT? Saíra numa passeata, mas calcularam a presença em mais de milhão.

Vingança? Corno ultrajado? Estão me confundindo, faz tempo, muito tempo que não tenho caso com mulher casada, Essa eu aprendera cedo.


        Epa! Outro estampido, acho que querem ter certeza. O túnel em que entro vai se fechando. Vou morrer e nem sei por quê. Que miséria!

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