O DOM DA PALAVRA
Oswaldo
U. Lopes
Num mundo que esta perdendo totalmente a
comunicação oral em detrimento do whatsapp e de outras formas de isolamento,
Carmem tinha o dom da palavra e, como! Talento é talento, não se discute, ela
magnetizava e prendia o olhar a atenção, tudo.
Dela não se podia dizer que não tinha
horizonte, os tinha e largos. Quando soltava a voz eles se abriam.
Hipnotizava seus ouvintes, conduzia-os
como se tivesse uma batuta e eles flutuavam ora rasantes ora nas nuvens.
Penetrava-os entrando pelos becos da alma e ia fundo pelas fendas, pelas
janelas intimas e fazia-os ver tesouros que muito valiam, mesmo não sendo
enterrados nem mapeados.
Tinha entonações de voz diferentes para
cada fala. Com gume cortante quando tocada pela raiva contida, pela injustiça
sofrida. Com tom fecundo quando precisava enterrar sementes nos seus ouvintes
que só iriam brotar mais tarde.
Sabia saciar-lhes a fome que não era de
pão, fazendo-os ver que nem só dele se vivia.
Como o fazia? Talento, muito talento.
Sabia cultivá-lo e o fazia com denodo, mas sem ele não teria tido sucesso. Era
um bonito caso duplo, era bonita também, da distribuição aleatória de dons que
faz a graça dos humanos e os torna tão diferentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário