Roda pião
Maria Verônica Azevedo
Nossa casa foi construída priorizando a área de
brincadeiras para as crianças. Como tínhamos dois lotes, localizamos a construção
em um deles e reservamos o lote na face norte para área de brincar. Depois de
tentar vários tipos de cobertura, optamos por colocar tijolos no chão
assentados com areia, imitando os terreiros de secagem do café. As vantagens de
piso são que não escorrega, não fica muito quente ao ficar exposto ao Sol e não
empoça água quando chove. A solução mostrou-se perfeita para pular corda,
correrias, jogos de bola e amarelinha. Para empinar pipas, tínhamos toda a área
em torno da casa, pois a nossa era a única do quarteirão, numa rua sem calçamento e onde
os terrenos não tinham muros e nem mato alto.
Naquele dia cheguei com uma novidade: quatro piões de
madeira com fieiras.
Os três meninos
se animaram e cada um pegou um pião sem saber bem o que fazer com ele.
Tentei
mostrar como se enrola a fieira para jogar o pião.
Logo começaram a brincar. Depois de algumas tentativas
o mais velho se aborreceu e voltou para o livro que estava lendo.
O do meio
logo se ajeitou com o brinquedo e não perdia uma jogada. O pequeno o observava
curioso tentando imitá-lo durante algum tempo.
Nos dias que
se seguiram, Tasso continuou a jogar criando estratégias que deixavam seus
irmãos admirados, mas sem ajudá-los. Ele brincava praticamente sozinho, fazendo
acrobacias, com o pião que rodava aparando-o na palma ou até no dorso da mão.
Era bem curioso observar a destreza dele, jogando o pião para cima, girando o
corpo com rapidez e pegando o brinquedo ainda no ar para equilibra-lo de novo
na palma da mão. As vezes, ao se abaixar e colocar a mão rente ao chão, ele
fazia o pião que girava no piso subir na palma da sua mão.
Eu ia para o
trabalho na escola pensando em como a interação das crianças pode ser difícil.
Na escola, tínhamos uma dificuldade com o
Alcindo. Muito agitado nas aulas, ele não se concentrava em nada. No recreio,
sempre se envolvia com brigas porque queria ser o líder, mas não conseguia o
apoio do grupo.
Eu estava
observando os recreios pensando em como poderia quebrar aquela situação, quando
me lembrei do Tasso com o pião.
De volta em
casa, perguntei a ele.
- Você topa
ensinar o jogo com o pião para um aluno da escola onde eu trabalho?
Ele aceitou
a ideia.
Então veio
comigo para a escola levando dois piões.
O Alcindo se
encantou com o pião que não conhecia e conseguiu aprender com a ajuda do Tasso.
Nos dias que
se seguiram, Alcindo passou a liderar a brincadeira, no pátio de cimento da
escola, com os vários piões que a escola havia comprado, ensinando para as
outras crianças.
As brigas
desapareceram e ele criou até um campeonato de pião na festa junina.
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