ULTRAJE COM RIGOR:
Uma
Costureirinha qualquer
Oswaldo
U. Lopes
Sérgio candidamente passeava com sua
amante pelo Jardim da Luz. Tranquilo, morador de bairro nobre, a chance de
cruzar com alguém conhecido, naquele local, era menor que zero. Caminhava feliz
e descontraído de mão dada com a Lucíola, costureirinha que trabalhava ali
perto na Rua São Caetano, compondo o mais famoso produto daquele local,
vestidos de noiva e sonhando, é claro com um que fosse do seu tamanho e tivesse
cauda, muita cauda.
Sérgio era um aproveitador? Lucíola uma
jovem inexperiente que seria mais uma vitima da sociedade machista?
Nem tanto ao mar nem tanto a terra.
Sergio, bem sucedido, rico, andava cansado daquela ostentação, de festas
regadas a champanhe, viagens privativas e tudo mais que vem no pacote. Tinha
saudade do arroz com feijão, bife e batatinha frita. Queria menos ostentação e
carinho comportado, moça recatada e não perua solta.
Lucíola não era tão ingênua assim, via
televisão, conversava com as amigas, estudava a noite, dava duro no trabalho e
na vida. Se tinha alguma ilusão era porque queria tê-las, não se enganava, mas
gostava daquela hora de passeio e de uns beijos ardentes atrás das arvores.
Acho que não contavam com ela, a esposa,
vamos por hora ocultar-lhe o nome, no time chamado casamento ainda era a
titular, embora jogando mais para a plateia do que para a equipe.
─Safado! Quem é a cabrita nova. Bode velho
sempre acha que pode pular a cerca.
Século XXI ou não, tempo modernos ou
não, ela ardeu e se remoeu com ciúme e o que é pior, não se conformou com o
ultraje. Eram sentimentos difíceis de explicar. É sutil a diferença entre ciúme
e ultraje. Não tinha ciúmes do Sergio, já achava ele mais para acabado e
amassado do que outra coisa. Agora era ultrajante ser trocada por outra, mais
jovem e ainda por cima uma costureirinha, como informara o detetive.
Foi fácil arrumar o pacote, cinquenta
mil em dinheiro vivo. Moeda estrangeira desde que dólar ou euro também valia.
Nem precisou sacar no banco e deixar rastros, pegou os dólares no cofre de casa
mesmo.
Pareceu e foi feito para parecer um
assalto, como tantos outros, que virou latrocínio, um tiro na testa e outro no
peito. Chorou um pouco, vestiu luto e agora era viúva rica e não ultrajada,
prontinha para o que viesse.
E Lucíola? Continuou costurando os vestidos e sonhando
com um casamento. Porque raios as mulheres sempre tem esses sonhos? Estes
desejos, estas imagens?
Vai ver que é por isso que o primeiro
volume da tão aguardada série “Para
Entender As Mulheres” já chegou as livrarias com alentadas 2.789 páginas
Nenhum comentário:
Postar um comentário