MOMENTO MÁGICO
Silvia Helena de Ávila
Ballarati
Tem uma coisa que só
acontece quando o papai fica três ou quatro dias na fazenda: a barba dele cresce. Pinica meu rosto quando ele me beija e
abraça, dói um pouco, mas eu não ligo.
Quando ele chega, a
camionete vem carregada de mexerica, abacate, laranja e banana, não se compram
essas frutas em casa. Ah! e tira leite
todas as manhãs, então ninguém compra leite também.
Ele estaciona na garagem,
sai do carro e abraça os seis filhos. Mas não tem jeito, nessa hora ele é nosso, não deixamos o papai
fazer mais nada, ele senta no alpendre e a gente fica ao redor dele escutando
as últimas novidades da fazenda.
Depois ele cumprimenta a
mamãe, vai tranquilamente descarregar o carro enquanto ela aproveita pra passar
um café fresquinho. Eles se sentam na
mesa da cozinha para conversar, tomar o café e descansar um pouco.
Nós voltamos a brincar,
mas eu já não brinco direito mais, fico vigiando a hora em que o papai vai
tomar banho porque eu sei que antes do banho ele sempre faz a barba. Fico espiando do quarto, escondida, ele na
pia do banheiro. Ele tira a camisa,
molha o rosto e começa a ensaboar a pele com aquele pincel grosso molhado na
espuma de barbear. Faz mesmo a maior
espuma.
Ele não me vê, tem horas
que acho que finge que não me vê, nunca
sei, o papai é muito distraído. Só que
eu fico aflita de ver que algumas gotinhas d'água começam a pingar em sua
barriga. Vão pingando e ele não percebe,
aí eu apareço para enxugar, eu tenho que ajudar, senão o papai vai ficar todo
molhado. Nessa hora, ele sempre leva um
susto ao me ver e fala:
__ Ah! Você estava aí né, sua danadinha, me
espiando! E pega o pincel e esfrega a
ponta do meu nariz com espuma, dando aquela bronca de brincadeira. Nós dois caímos na risada, ele me abraça
e me suja mais um pouco de espuma. Tudo
bem, vale a pena, eu adoro esse momento.
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