O SANTO CASAMENTEIRO
A
fazenda ficava em Jaú, casa antiga, terreiro imenso, ainda se plantava e colhia
café. Gostava de andar por ali. Não era fazendeiro, nem de longe, a terra era
dos sogros e vinha de muito na família da mulher.
Era médico e dizia que de tanto viver na
cidade, tinha diesel nas veias. Naquela vez notou algo diferente num dos cantos
do pátio, ou pelo menos nunca tinha reparado naquele amontoado de tijolos.
Começou a afastá-los e deparou com uma imagem de 20 a 25 cm de altura, muito
suja de terra, mas que parecia bem feita. Como era santeiro, segurou a peça com
muito cuidado e carinho, era barroca sem dúvida nenhuma.
Foi para a cozinha lava-la e nem tinha
escorrido três águas quando ouviu, atrás de si a voz inconfundível de D. Benê a
cozinheira que já tinha seus 90 anos ou mais como indicavam os cabelos brancos
na carapinha. Como é mesmo o dito popular: “Negro quando pinta três vezes
trinta”.
─ Uai, que beleza, encontraram o Santo Antônio Casamenteiro!
Sorriu para ela e conclui a limpeza. A
imagem era de muito boa qualidade e mostrava um santo de hábito franciscano que
tinha no braço esquerdo um livro com um pequeno gancho vazio, faltava a mão
direita e a cor da imagem, agora bem limpa era escura lembrando caldo de feijão.
─ Pois é Seu doutor, ele existe nessa
casa antes até de eu nascer e olha que eu nasci faz tempo. Ela
deu risada, brincando com a própria idade.
─ Tudo quanto era moça solteira usava ele para
fazer promessa de casar. Tiravam o menino Jesus que ficava em cima do livro e
só devolviam quando arranjavam noivo.
─ A mão direita também era arrancada com a
mesma intenção. Pegou essa cor de tanto ser cozinhado no feijão. Se olhar bem
vai ver que o cocuruto e meio achatado, pois botavam ele de cabeça para baixo até
o marido aparecer.
─ Às vezes o santo falhava e na confusão
acabaram sumindo com o menino e com a mão. Hoje com a tal de internet o santo
perdeu prestigio.
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