Por que será? - Maria Verônica Azevedo


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Por que será?
Maria Verônica Azevedo

            Depois de dez anos ou mais, ela voltou a Passos, sua terra natal, acompanhando seu pai. Eles iam ver como estava a velha casa da família, agora vazia com a morte da  avó quase centenária.

            Entraram os dois na sala escura com cheiro forte indefinido parecendo uma mistura de perfumes antigos. Logo abriram as grandes janelas que descortinavam a vista do vale. Dava para ver o quintal com  as árvores frutíferas e a capelinha de Nossa Senhora sob a sombra do abacateiro.

            Enquanto seu pai circulava pelos cômodos, ela saiu pela porta lateral descendo até o quintal. Aproximou-se da capelinha tão antiga e bastante empoeirada. Pensou que poderia limpar a imagem de madeira da santa. Com esta intenção, retirou-a do pequeno altar. Queria levá-la para casa.

            Ao levantar a imagem, percebeu que estava sobre uma delicada arca de madeira ornada com um detalhe entalhado que lhe chamou a atenção.

            Descansou a imagem na grama e pegou a caixinha. Com alguma dificuldade conseguiu abri-la. Para sua surpresa, encontrou um pequeno leque que com certeza era chinês. As varetas de marfim eram trabalhadas com delicados recortes que se assemelhavam a rendas. Unindo-as, uma faixa de seda pintada em cores claras representava uma cena campestre.

            Ela se perguntava por que tal objeto estaria aos pés da santa. Quem o havia colocado ali?

            Entrou na casa e mostrou o leque para seu pai.

            - Eu nunca vi este leque. Não me lembro de minha mãe com ele. Ela costumava ter um leque sempre à mão nos dias de muito calor, mas não este leque tão delicado. Acredito que possa ter sido dela, mas não faço ideia de porque estava guardado ali.

            - Com certeza era um objeto com um significado especial, meu pai. Posso ficar com ele?

            - É evidente que sim.
           
            Ela levou o leque e guardou-o por muito tempo. Depois de vários anos pensou que poderia transformar o leque em pequenas lembranças do mistério de sua avó para as bisnetas.

            Com cuidado, destacou as varetas de marfim e mandou fazer pingentes com formato de medalhões retangulares que foi presenteando para suas filhas e noras. Eram joias bem bonitas e originais.


            Mas nunca pode explicar a verdadeira origem do leque chinês. Só resta a imaginação para lhe dar sentido.

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