O QUE
ACONTECEU?
Ledice
Pereira
Intimidada,
embora relutante, levantei os braços. Um capuz cobriu minha cabeça e escureceu
parcialmente meus olhos. O estampido atroz me sacudiu quando a arma de fogo
disparou sangrando meu vestido na altura do peito.
Era o que eu via passar como se fosse um filme,
deitada naquele quarto todo branco.
Não sei há quanto tempo estaria estava ali. Estava meio
tonta, braço imobilizado, cheio de tubos que me ligavam àquelas bolsas
penduradas.
Olhava tudo sem conseguir raciocinar. Avistava
rostos que me olhavam e não conseguia identificá-los através do vidro que nos
separava.
Um homem de branco adentrou vindo em minha direção
e perguntou como eu me sentia.
─ Não sei ─ O que aconteceu?
Ele, com cuidado, explicou que eu estava ali há
vinte e poucos dias. Tinha sido vítima de um assalto e precisara ser submetida
a uma operação delicada para retirada da bala, que se alojara próxima ao
coração. Agora estava fora de perigo, mas precisaria permanecer mais uns dias
na UTI.
Parecia estar sonhando. Sentia-me fraca. Mal
conseguia conversar.
Aos poucos passei a distinguir os rostos de meu
marido e de meus filhos, que, daquela janela, me olhavam ansiosos por um
reconhecimento.
Sorri para eles.
O que eu pensava ser um filme, na verdade, era um
momento que eu vivera como protagonista.
Estranha sensação!
Acho que se tivesse morrido, não teria sequer
percebido.
Agradeci a Deus por estar viva e poder voltar para
a minha família.
Apesar de separada por aquela vidraça podia sentir
que me mandavam forças e energias positivas.
Eu tinha saído dessa!
Nenhum comentário:
Postar um comentário