UM CRIME PERFEITO
Oswaldo
Lopes
São Personagens de nossa história:
Dom
Fernando Dibonatti –
Homem de negócios riquíssimo. Exerce múltiplas atividades, mas sobressai o
poder de sua Construtora que trabalha muito com obras públicas pequenas, o mais
das vezes reformas em prédios escolares. Tem um estilo pelo qual é conhecido
como mafioso, melhor seria chama-lo camorrento já que sua origem é Salerno,
viccino a Napoli, onde o crime organizado chama-se Camorra e a região Campania.
Julieta
Alvarenga Dibonatti – Única
filha de Dom Fernando que bem se vê casou com uma quatrocentona como era comum
acontecer em São Paulo. Trintona, bonita, nariz em pé, leva jeito para os
negócios digamos obscuros, e o pai não tem dúvidas de que será sua sucessora,
muito capaz. Já teve uns tantos namorados, mas sempre os considerou frouxos ou
pretenciosos.
Antônio
Dibonatti de Sanctis –
Primo um pouco distante de Dom Fernando este o considera um bom administrador
tanto que lhe entregou a cadeia de lojas de ferragens, na qual os negócios não
são propinados. Antônio quer voos mais altos e riquezas maiores. Com 32 anos
esta no auge da impulsão e louco para levar os negócios da família para o alto.
Conta com apoio de D. Marta Dibonatti, sua mãe prima de D. Fernando.
Celso
Matsubara – Repórter
policial freelance. Já trabalhou na Folha, onde ficou conhecido pelas confusões
em que se metia. Pela sua condição de freelance esta sempre a procura de alguma
novidade se possível bem escandalosa. Além de conhecê-lo da colônia Japonesa é
parente de:
Sergio
Hiroito Aquinagawa - Conhecido
como “japonês da estadual” é investigador da policia civil lotado na Divisão
Especial do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e Proteção a Pessoa).
Alcançou certa fama pela forma dedutiva e brilhante com que já resolveu
inúmeros casos de assassinatos.
Delegado Fabricio Santana - Chefe da Divisão especial do DHPP e
portanto chefe do Hiroito tem pelo investigador grande respeito e até admiração
pela competência do japonês, mas não deixa isso transparecer e sempre da umas
duras no Hiroito.
Nossa história começa com a apreensão de
quantidade vultosa de cocaína dentro de um caminhão que transportava
supostamente ferragens, tendo nas laterais o logotipo inconfundível das
empresas Dibonatti.
Dom Fernando tivera um ataque. Sempre se
policiara para não lidar com drogas e seu tráfico, Sabia que o que fazia era irregular,
mas uma coisa era lidar com o DOP (Departamento de Edifícios e Obras Publicas,
extinto em 1991 e substituído pela Companhia Paulista de Obras e Serviços) onde
todo mundo conhecia todo mundo e o lugar de molhar a mão era até chamado de pia
seca, e outra coisa era lidar com o
DENARC (Departamento Estadual de Investigação sobre Narcotráfico) onde os
métodos de investigação eram mais violentos e tinham conexões não só federais
com internacionais. Sujeira no DENARC era sujeira grossa, mal cheirosa e de
consequências avassaladoras.
Nem precisou perguntar muito para saber
que aquilo era arte de Antônio. O próprio se encarregara de comparecer a uma
reunião com os principais e mais antigos chefes da organização para dizer:
─
Os tempos são outros. O dinheiro grosso não esta nessas reformas mixurucas que
fazemos, mas nas grandes obras de infraestrutura, barragens, estradas,
ferrovias. Precisamos de capital para entrar nessas concorrências e a droga é o
caminho mais rápido.
E foi por ai a fora, aquela apreensão
tinha sido boi de piranha. Enquanto a policia apreendia aquele caminhão, outros
três passavam, levando perto de uma tonelada de droga. O lucro de cerca de US$
50 milhões estava depositado num paraíso fiscal e poderia ser usado em futuras
transações.
Celso farejara alguma coisa naquela
apreensão, era algo totalmente novo a interação do grupo Dibonatti com drogas.
Telefonou para o primo Hiroito que
tinha, como Dom Fernando, uma profunda idiossincrasia com relação a drogas,
embora por motivos diferentes.
─ Celso,
já te falei mais de uma vez, não mexo com drogas a não ser quando ocorre um
assassinato. Estou de veia generosa hoje, procura o José Maria no DNARC, ele é
meu amigo e se tiver algo que possa ser publicado ele te conta, eu pessoalmente
duvido. Isso ainda vai dar o que falar.
Nos moldes da Máfia ou da Camorra ou que
nome demos a organização de Dom Fernando, ela começou a se mexer. A única coisa
que atrapalhava, era o romance entre Julieta e Antônio. O destino de Antônio já
estava traçado, uma bela e longa viagem de barco, porém, sem volta. Os mais
velhos tinham uma vida muito boa e o dinheiro das chamadas pequenas obras,
multiplicado por centenas delas, dava pro gasto e ainda sobrava.
Antônio era apenas mais um jovem
ambicioso que, sem aceso a contabilidade total da companhia, dava sinais de
impaciência e queria chegar, mais cedo do que devia, ao topo, fazendo escala
nas drogas e no namoro da filha do chefe. Comprometera os negócios e custara a
Dom Fernando horas de telefonemas, dinheiro que saia e não que voltava, para
dar certo abafa no episódio. E agora ainda tinha essa de dinheiro em paraíso
fiscal.
O roteiro era conhecido e já fora
aplicado outras vezes. Uma viagem longa com destino ignorado para tratar dos
interesses da companhia. O que incomodava era Julieta. A Le donne, Le donne son
mobile como cantava o duque. Com todas
as suas excelentes qualidades de chefia e visão para negócios, Julieta inda era
presa fácil nas coisas do amor. A única vantagem é que se prendia aqui se
soltava lá, de modo que ia lamentar o desaparecimento de Antônio por uns tempos
até que mudasse de assento ou de pensamento.
E
foi assim que Antônio partiu para uma longa viagem, levou uma pequena mala,
cartões corporativos e o passaporte.
Hiroito reconheceu a voz de Celso:
─
Agora é com você não é? A proteção a pessoa não inclui desaparecidos? Faz três
semanas que Antônio Dibonatti sumiu e ninguém sabe o paradeiro
Hiroito mandou Celso pro inferno, ou
melhor, a pqp quando o telefone tocou de novo:
─
Hiroito, estão nos cobrando uma resposta para o desaparecimento desse tal de
Antônio, mexa-se. Depois daquele negócio da cocaína no caminhão, parece que
eles passaram a manta no DENARC, e têm muita gente louca por uma revanche. Você
sabe que passar o DENARC para traz é meu esporte favorito. Conto com você.
Hiroito de fato saiu a campo e foi
juntando os pauzinhos. Dom Fernando tinha um barco, misto de traineira e iate,
pois adorava pesca em alto mar. A naveta se chamava Bella Ciao e segundo
informações corriqueiras tinha sido responsável pelos tchaus de muita gente que
pisava no seu convés.
Tinha entre seus pertences uns curiosos
objetos feitos de cimento onde cabiam muito bem os dois pés, dados seu formato
peculiar. Os marujos do barco diziam que aquilo servia para dar lastro às redes
quando lançadas em alto mar. O que se sabia, mas não se dizia era que ali se
colocavam os pés de pessoas que deviam desaparecer. Este artefato era fechado
por cordões, não de sapatos, mas correntes pesadas de ferro que garantiam a
permanência do sapato quando alguém era lançado com eles em alto mar. Garantiam
também o não retorno e, a não flutuação no futuro.
Uma linha grossa de pescaria, bastante
forte era passada a toda volta do corpo de modo que todas as partes que o
compunham permanecessem juntas. Na história do Bella Ciao não se conheciam
cadáveres que aparecessem boiando tempos depois.
Qual foi a história apurada. O jovem
Antônio viajara no Bella Ciao para alcançar um navio mercante misto, ainda em águas
brasileiras, para efetuar sua anunciada viagem e embarcara e partira para sua longa viagem.
Tudo nos conformes o navio tinha nome e registro e acolhera o passageiro que
tinha reserva antecipada.
Hiroito informou o Delegado Fabricio:
─
Trata-se de um crime dito perfeito, tudo nos conformes, ninguém fala nada, tudo
registrado e o promissor rapaz jaz no fundo do mar. Só resta saber se foi
despachado ainda vivo ou se lhe tiraram, por piedade, a consciência antes. Acho
que na sua impetuosidade o garoto ignorava certas manobras da companhia e
embarcara sorrindo para o passeio. Crime perfeito!
─
Crime perfeito é prosopopeia flácida para acalentar bovino!
─
Como chefe?
─
Porra você me entendeu. Essa coisa de crime perfeito é conversa mole para boi
dormir. Alguém vai dar com a língua nos dentes.
Talvez por influência das coisas que
contavam os parentes, da máfia japonesa, Hiroito não tinha ilusões. Já se
passaram seis meses o Antônio continuava desaparecido. Teria caído ao mar
durante uma tempestade? O comandante do navio apenas registrara seu
desaparecimento. Era incrível que com tanta gente envolvida os negócios da
camorra permaneciam acobertados pelo mais tranquilo e cerrado silêncio.
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