1. Não havia iluminação naquele
trecho da rua, só o silêncio duro além do breu. Agitei alguns pensamentos para
me fazerem companhia enquanto cruzasse aquele pedaço de rua. Foi quando ouvi
passos de mulher. Ela corria seguida por alguém. Estiquei os olhos, sem
conseguir vê-la ainda. O medo tomou conta de mim, e já não podia mais controlar
minhas pernas, então corri também, logo ali na frente havia um casarão
iluminado, lá me sentiria mais seguro. Mas, um grito agudo cortou o espaço e
preencheu aquele mundo num segundo
2. Eles partiram cedo
arrastando pesadas malas para as calçadas. Até a partida era uma felicidade só!
A casa ficaria de novo em silêncio, ninguém treparia no abacateiro, ninguém
faria barquinhos de papel para navegarem no lago, tudo ficaria esperando pelas
próximas férias. Havia muito riso dentro de todos, e muita alegria ainda para
ser compartilhada. Ficaria para o ano
seguinte.
E, foi assim que os
dezembros voltaram a ser festivos outra vez.
3. ... não adiantou nada falar
sobre o que nosso casamento significava para mim. Ele saiu batendo a porta
provocando um baque dolorido em nossas vidas...
4. ... Maria nunca tinha visto
tanta água. Os olhos azuis, da mesma cor do mar, corriam de um lado para outro
como se quisessem encontrar o fim daquele cenário mágico...
5. Ouviu-se um estrondo, e logo
o cortante silêncio da morte. Uma dor aguda me fez ir até ele. Olhei seu rosto
sofrido, os olhos agora bem fechados e o sangue a lhe cobrir os cabelos pretos.
Pacífico viveria em paz, finalmente.
6. ...O carro zunia solitário
na estrada erma. O relógio gritava as horas, e os pés de Fred apertavam mais o
acelerador. Arrisquei olhá-lo. O rosto franzido, com a tensão rompendo pelos
olhos fixos no asfalto...
7. O sol já não estava mais lá. Tinha transbordado luz pelo dia inteiro. Havia um leve torpor do verão tocando nossos rostos, naquele entardecer. As crianças ainda encontraram forças para uma corrida curta, mas logo voltaram cambaleantes. Era hora de...
8. — Teje preso! – gritou de longe o policial Moura com o 38
apontado para mim. Me acertaria de onde
estava, com certeza. Podia ser uma brincadeira, mas eu sabia que não era. Moura
e eu fomos amigos durante toda a vida, e agora estamos de lados diferentes...
9. As ondas, desta vez mais
impetuosas, estalavam no casco jogando o barco de um lado para outro, como um
brinquedo descontrolado. A pequena tripulação ainda nem tinha se refeito do
último temporal, agora este, bem mais assustador. Já temiam pela segurança do grupo,
embora ninguém ousasse dizer. Mas, era Lucio que comandava e essa era a margem
de confiança que tinham. Lucio era muito experiente e medo era um sentimento
que jamais fez parte de sua vida.
10. Dinorah fingia estar
dormindo quando o marido entrou em casa de madrugada. Há dias ela vinha
investigando as escapadas de Francisco. Já possuía a senha do seu e-mail,
Facebook, e do Whatsapp, já conhecia o desbloqueio do celular dele, mandou
instalar um gravador no telefone fixo do escritório da casa, e uma câmera
escondida na garagem. Dinorah sentia-se forte, e detinha muito poder sobre sua
presa.
11. Faz
tempo que não há nenhum ruído. O breu me cega mas meus ouvidos estão espertos.
Arriscaria me levantar e correr até a porta do casarão, lá poderia me esconder
no sótão, lugar que conheço bem.
12. O cheiro da cozinha da tia
Felícia foi até a porteira me encontrar. De lá mesmo gritei: Cheguei! E de
imediato pude ver os cães se alvoroçarem em minha direção, esbarrando-se uns
nos outros. Logo atrás vinham as crianças em trajes de banho, gritando de
alegria, e a tia Felícia que acenava feliz:
— Oba! Chegou na hora do
almoço, Fiz rocambole de carne com legumes, que você tanto gosta.
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