Os acromegálicos. - Fernando Braga

       
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Os acromegálicos.
Fernando Braga

       Acro = extremidade
       Megalia = grande aumento


       Como já dissemos, Osvaldo José é um médico cirurgião, cujo maior interesse é o bem do próximo, exercer uma medicina ética, de acordo com todos os preceitos hipocráticos.
       Vejam o que ele nos contou.

       Uns oito anos após seu casamento e tendo já seus quatro filhos, resolveu levá-los, em um domingo pela manhã ao antigo parque da Agua Branca, nas Perdizes.

       Entraram e começaram a percorrer as alamedas, vendo as plantas, flores e animais domésticos. Seus filhos corriam de um lado para outro, sem se cansarem e ele os seguia de perto.

       Em dado momento ele viu próximo, um rapaz que também trouxera seu filho.     Quando chegou mais perto, viu que ele apresentava uma cara de acromegálico típico, queixo grande e proeminente, enorme nariz, testa avançada, face embrutecida. Olhou para suas mãos notando os dedos muito grossos e uns sapatos enormes. Sabia detalhes sobre esta enfermidade e muitos casos havia operado para curá-la.

       A Acromegalia é uma doença produzida pelo aumento do hormônio de crescimento (HGH). Quando ocorre na adolescência, antes do fechamento das cartilagens de conjugação, que permite  o crescimento, começa a se instalar o chamado Gigantismo e o paciente se não tratado pode chegar a mais de dois metros. Quando ocorre após o fechamento destas cartilagens, o paciente não vai crescer mais do que havia crescido, mas terá crescimento ao nível de suas extremidades como do queixo, nariz, testa, mandíbulas, orelhas, língua, mãos e pés. Com isto, terá uma grande deformação lenta e progressiva em sua face, ficando com o aspecto grotesco, sua aliança fica pequena pelo engrossamento da mão e dedos e seus pés precisam sempre de sapatos com medidas cada vez maiores. E ainda, o paciente torna-se um hipertenso e diabético, o que certamente contribuirá para abreviar sua vida.

       Isto é produzido na grande maioria dos casos, por tumores na glândula hipófise que aumenta em tamanho, alarga a chamada sela turca e crescendo para cima vai comprimir o quiasma óptico, que pode levar o paciente até à cegueira, além de  dores de cabeça.

       Sendo feito o diagnóstico, a cirurgia permite retirar o tumor e a volta ao normal da taxa de HGH,  mantendo contudo, as alterações acromegálicas. Há melhora da pressão arterial e do diabetes. O quadro é característico e prejudica ainda mais as mulheres pela deformação de seus rostos e corpo. A grande maioria destes doentes, não percebem as alterações lentas que vem sofrendo e só consultam médicos se forem mais diferenciados, ou se estiverem perdendo a visão.

       Osvaldo José achou que poderia encaminhar o rapaz para seu serviço e após confirmação, ele mesmo o operaria gratuitamente.

       Assim que viu aquele rapaz, começou a segui-lo, esperando uma ocasião mais   propícia  para se aproximar e conversar com ele. Não sabia por onde começar a conversa. Após uma meia hora de andanças, aproximou-se e disse:

      — Desculpe-me, mas por acaso o sr. tem dores de cabeça? Foi a maneira que achou para entabular uma conversa. Podia ter falado: —O sr. já notou que seu rosto mudou, que seu queixo cresceu? Mas optou pela pergunta mais simples e rápida.

       Neste momento o rapaz parou, olhou Osvaldo José de frente, muito irritado e disse:

       — Já percebi que você estava me seguindo em todos os cantos!
Sai daí sua bichona louca! Vergonha!

       Osvaldo José ficou parado, estático, virou-se, pegou os filhos e foi embora.

       Em outra ocasião, foi levar seu carro para um conserto da parte elétrica em uma oficina não muito distante de sua casa. Pensou que o conserto seria imediato e rápido, mas o mecânico pediu que deixasse o carro por duas horas. Como era hora para o almoço, decidiu tomar um taxi que em 15 minutos o levaria até sua casa.
       Ao entrar no taxi, sentou-se ao lado do chofer, deu o endereço e logo observou que o cara tinha acromegalia. Quase no meio do caminho chamou a atenção do chofer dizendo:

      — Desculpe meu amigo, mas o sr. tem uma doença que se chama acromegalia. Isto para começar a conversa. O chofer deu uma brecada no carro, olhou para ele e muito nervoso disse:

       —Já estragou meu dia seu FDP. Doença, o caralho!

       Voltou a guiar, agora ambos quietos, esperando chegar ao destino. Quando estavam já na rua próximo à casa, o chofer disse:

       — Não gosto de médicos. Dizem que ajudam, mas não ajudam nada. Se o sr. disse que eu tenho uma doença, quero ver se me ajuda! Vamos lá!

       Pagou o taxi e disse: — Me desculpe, mas agora é tarde! O sr. perdeu uma grande chance! Adeus!

       Nas duas vezes, relatou o caso para sua mulher que comentou:

       — Agora você aprendeu? Algum dia alguém ainda vai te matar. Desista!
       E ele desistiu?            

Aguardem outras do Osvaldo José.

 


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