SANDUÍCHE DO QUE? - Jeremias Moreira

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SANDUÍCHE DO QUE?
Jeremias Moreira

Meio da tarde, é quando Juca deixa sua sala, dá uma escapada para o terraço e fuma seu cigarrinho. O lugar é agradável, ajardinado, ensolarado e tem-se uma bela vista da Praça da Sé. O problema é a praga do cigarro que ele não consegue largar. No entanto. Desse mirante privilegiado percebe que nesse horário dá-se a chegada do mulherio que faz ponto no Boteco do Portuga e imediações. Entre as mulheres uma mulata se destaca. Um mulherão exuberante de derrubar regimento!

A família em viagem, solitário na cidade, Juca resolveu conferir a mulata de perto. Saiu do escritório para um café no tal Boteco.

No primeiro gole quem se encosta? Ela mesma! A mulata arrasa quarteirão, que tête-a-tete confirma a deliciosa avaliação que fizera do alto!

Buscou no fundo do baú sua verve galanteadora e soltou:

− A beldade como se chama?

− Doca! Para os íntimos, Doquinha! − Ela responde, se aconchegando.

− E a Doquinha tá afim de que? − Juca retruca indo direto ao ponto.

− De um drinque à meia-luz na pensão da esquina...

A essas alturas mal sabia Juca com quem se metia. Teve o primeiro alerta e ignorou, quando o bate-papo foi interrompido com a chegada de uma “perua” empetecada:

− Cuidado com essa “piranha”! É a maior enroladora do pedaço...

− Se manda daqui sua “velha coroca”, seu tempo de uva já era! – Reage Doquinha!

Juca, dando uma de apaziguador gostosão, interfere:

− Calma, calma... levo as duas! Mas, tem que ser pelo preço de uma.

− Ah! O meninão tá afim de um “misto quente”? Tudo bem, o freguês é quem manda! Mas, nesse caso o pagamento é adiantado!   − Avisa a dupla assanhada...

Vislumbrando uma tarde inesquecível e no “aperto” em que se encontrava, Juca topa a parada e paga.

As duas mulheres confabulam.  Doquinha volta-se para Juca e diz que elas vão buscar “vitamina” pra turbinar o “fuzuê”. Cada uma conhece um “fornecedor” diferente. Vão escolher o mais barato.

− Vai indo e aluga um o quarto que logo estaremos lá. Vai se preparando queridão, que a tarde será longa! – Avisa a mulata, toda dengosa!

Depois desse dia, nunca mais Juca voltou ao Boteco! Lá, ficou conhecido como “Mortadela”. O que está esperando as duas fatias do pão até hoje.

Texto solo a partir do conto DOQUINHA DA SÉ, criação coletiva de
Carlos Cedano / José Vicente / Jeremias Moreira



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