As férias de dezembro. - Fernando Braga

       
Resultado de imagem

As férias de dezembro.
Fernando Braga

       O tempo passa muito rápido!

        Na realidade, não é o tempo que passa, mas, nós que passamos! Restam as recordações, que quando procuramos por elas, vêm facilmente.

        Quando chegava dezembro, após os exames escolares, meus quatro filhos ficavam impossíveis e impassíveis, querendo viajar, irem para a fazenda deixada por meu pai, agora nossa e de meus quatro irmãos.

       Aguardavam a liberdade, a enorme área verde, piscina, cavalos, o encontro com os primos e primas, todos com pequenas diferenças de idade. Ao chegarem, após a viagem cansativa de seis horas, fechados em um carro, aquele enorme calor de verão, iam direto para a piscina.

       No dia seguinte, pela manhã, lá estavam os primos que também em férias, queriam aproveitar ao máximo a fazenda e a companhia de meus filhos, que só viam uma ou duas vezes por ano. Isto se repetia em dezembro, ocasião em que eu também tirava férias do trabalho.

       Passados muitos anos, todos adultos, casados e com filhos, procuram a lembrança, a recordação daqueles bons tempos.

       —Pai, o senhor se lembra de uma férias de dezembro, em que fomos todos para a fazenda e resolvemos fazer uma gincana? Dividimos os 12 primos e mais alguns amigos em dois grupos e colocamos 10 desafios, desempenhos, para serem realizados no decorrer de três dias?

       —Algumas tarefas relacionavam-se mais com as mulheres e outras, para os homens. A disputa era ferrenha! - E havia sacanagem, um querendo estragar a coisa do outro!

       —Eram várias disputas, entre elas o jogo de futebol, apontaria com estilingue, o maior tempo debaixo d´agua sem respirar, corrida a cavalo, jogo de taco e bolinha de borracha, laçar bezerros grandes, vôlei na piscina etc. Entre estas provas, três delas, não me saem da memória: -Quem faria o melhor bolo! A caça de um morcego, abundante na tulha de café e a melhor fantasia, em uma galinha. No final eram escolhidos tios e tias, supostamente imparciais, como jurados.

      —No dia dos resultados, cada grupo apresentava suas conquistas nas atribuições.

       —Um grupo apresentou seu bolo, que devia ser provado pelos julgadores, e foi considerado delicioso, mas o outro estava salgado, muito ruim e foi desaprovado. Começou a briga, pois alguém havia sabotado, misturado sal ao açúcar.

       —Na hora de apresentar o morcego, um dos grupos trouxe um deles todo pintado de branco. O outro lado, reclamou de que aquele morcego era deles e havia sido roubado a noite e pintado para disfarçar. As duas galinhas fantasiadas deram show, ambas excelentes, obra das meninas. Pena que naquela época não havia celulares, cujas fotos, como hoje, poderiam ser imediatas.

        Era uma diversão geral, proporcionada pelos primos. Havia briga, mas não porradas, agressões físicas.

       —Pai o senhor se lembra de que nesta mesma ocasião, um cachorro da vila próxima veio até a fazenda e mordeu alguns de nossos cães?

       —Como podia me esquecer filho?

        —Na vila detectaram que o cão estava raivoso! Dias após, um de nossos cachorros que era muito dócil, mudou de comportamento, começou a babar, após ter brincado e lambido alguns de vocês.

        —Após consulta, recebi ordem do Instituto Pasteur, para matar todos os cachorros, incluindo o Baixo Tubo, aquele cachorro salsicha, bonzinho, morto a pauladas. Todos vocês, os primos, sem exceção, receberam soro antirrábico durante 20 dias, com injeção diária na barriga, no centro de saúde de Rio Preto. Não me inclui, nem sua mãe, nem sua avó, mas sim o meu cunhado, que veio de São Paulo e passou algumas horas conosco na fazenda. Ele precisava, pois sempre foi muito raivoso! Ele tinha paúra de pegar raiva, então... injeções na barriga!

       —Na hora da vacina, ninguém queria ficar na frente da fila! Iam para o final!

       —Pois é meu filho, vocês todos eram muito corajosos, queriam derrubar bezerros, matar morcegos, apostar corridas a cavalo, mas na hora H, de receber uma injeçãozinha na barriga, todos covardes.

        Isto tudo foi relembrado em um domingo, em casa e todos morremos de rir.

        Bons tempos! Meu filho mais velho, para terminar disse:

       —Pai, fui eu que roubei o morcego que o Dado conseguiu pegar, vibrando uma varinha.

       —Pai, a única coisa chata era quando colocávamos as malas no carro para voltarmos para São Paulo!

        Até a partida, era uma felicidade só. A casa da fazenda ficaria em silêncio. Não subiriam mais nas mangueiras carregadas nos abacateiros, chupar uvas das parreiras carregadas, frutas desta época do ano. Teriam que esperar mais um ano, pelas férias de dezembro. Apesar da tristeza da hora, havia ainda muita alegria a ser compartilhada na viagem de volta, principalmente com minha sogra, a avó deles, a primeira a querer vir e a última a querer ir embora!


       E assim, os dezembros continuaram a ser festivos, por muitos anos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário