A PULGUINHA
Carlos Cedano
Era um dia quente de verão, perto das dezenove horas peguei
o ônibus, sempre lotado, e como era só começo do percurso, subiam mais passageiros
e o veículo ficava cada vez mais apertado, as pessoas mais apinhadas. Sem perceber me deparei
com um senhor de ar circunspecto frente a frente que parecia respirar com
dificuldade, vestia uma camisa branca e um blazer creme claro e eu estava de camisa
azul-claro.
Com os passageiros ainda subindo, se achegou uma
robusta senhora fechando com nós dois um pequeno circulo e ficamos olhando-nos
com cara de bobos. Foi nesse momento que descobri uma pulguinha que subia lentamente
pela lapela do blazer do senhor, pelo tamanho de seu abdômen se podia concluir
que tinha tido um belo banquete de sangue!
Fiquei olhando atentamente seu percurso esperando que não
pulasse em mim, ninguém gosta da pulga dos outros, nos só gostamos daquelas que
são sangue de nosso sangue! O senhor
com um sorriso amarelo disse: nunca se
sabe onde podemos pegar uma pulga, também com esse aperto de gente não é de
estranhar que isso ocorra! Parecia justificar-se.
De repente a pulguinha “despareceu”. Eu olhei para
minha camisa a tempo que a mulher comentava:
Olha! Ela pulou e agora está na camisa do jovem e ela está bem gordinha! Disse com
entusiasmo enquanto sorria. Agora todos olhavam pra mim e no ônibus aumentava o
número de curiosos querendo saber o motivo do pequeno tumulto em volta de nos
três.
Não tive dúvidas, sem perder a calma levei meu dedo
indicador à boca e molhando-o bem, “capturei” a pulguinha e, imediatamente, a coloquei de volta na lapela
do senhor, apertando-a bem. E disse-lhe: estou
devolvendo sua pulguinha, não gosto de ficar com as coisas do outros!
Acontece que a pulguinha tinha arrebentado e deixado
uma bela marca vermelha no blazer do homem. Foi um riso só! Aproveitei o
momento para me escafeder. Por sorte o ponto do ônibus estava logo ali.
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