MEDO NA RUA. - Mario Augusto Machado Pinto

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MEDO NA RUA.
Mario Augusto Machado Pinto

Não havia iluminação naquele trecho da rua, só o silêncio duro além do breu. Agitei alguns pensamentos para me fazerem companhia enquanto cruzasse aquele pedaço de rua. Foi quando ouvi passos de mulher. Ela corria seguida por alguém. Estiquei meus olhos sem conseguir vê-la ainda. O medo tomou conta de mim, e já não podia controlar minhas pernas, então corri também. Logo ali na frente havia um casarão iluminado. lá me sentiria mais seguro. Mas um grito agudo cortou o espaço e preencheu aquele mundo num segundo.

- Aiiii. Vocês vão ver só. Vão ver com quantos paus se faz uma canoa...

E a corrida continuava, o barulho dos pés cada vez mais perto e eu correndo, correndo. Só faltava poder fazer o que sempre aconselham: passar sebo nas canelas.

- Corre, corre, vem por aqui, atrás de mim. Não para. ´Stou vendo gente numa porta aberta. Vem, vem. Não para não, gritava eu pra mulher que também corria.
E ela chegou perto, mas com a companhia que a seguia que de repente começou a ladrar. Cachorros. Parece cena de filme de escravo.

Ajuda, Deus dos fugitivos, ajuda, eu pedia já ouvindo a respiração da mulher resfolegando bem atrás de mim, quase juntinho - puxa lo saco, como ela corre - mas minha cabeça não parava de me jogar dúvidas e receios. Não conseguia me desviar, quer dizer, acabava um, entrava outro. Medroso de uma figa. Nada, de um saco de figos. Nada disso. Quem gosta de mim sou eu.  A coisa é séria, pois não é que a mulher está sendo acuada até por cachorros? Diacho, em que enrascada me meti. Chegando pertinho da porta aberta e espaço iluminado, quase sem fôlego gritei – Moça ajuda a gente.

- Claro, claro, sobe a escadinha, mas não entendi: porque vocês estão correndo? Falou ela toda agitada e maneirosa.

- Por que tem gente querendo me assaltar. Tão pondo cachorro pra cima de mim, falou a moça subindo a escadinha aos trambolhões.

- Assaltar? Vocês estão malucos.

- Como assim?

- Os cachorros estavam com o tratador dando uma volta, sabe, higiênica; alguém correu e eles correram atrás. O tratador não conseguiu segurar os quatro. Vocês todos apostaram corrida...e ganharam dos cachorros.

Um pan de baque surdo nos fez olhar na direção da escadinha: a moça tinha desmaiado.


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