Marcianos na Alemanha
Ises de
Almeida Abrahamsohn
Há muitos anos
nas férias em família estávamos em Hamburgo na Alemanha. Já no primeiro dia
após a chegada, enquanto meu marido tomava café acompanhado de generosa fatia
de Apfelstrudel fomos, meu filho e eu, à principal loja do Shopping. O garoto
estava animadíssimo. Tinha trazido do Brasil uma boa quantia em marcos ganhos
da avó pelo aniversário.
Ao pagar
estendi as duas notas de cem marcos. A senhora da caixa me olhou como a uma
marciana e perguntou irritada:
̶ O que a senhora quer com isso? Está brincando?
Eu não
entendia o porquê da reação da mulher e respondi balbuciando:
̶ Nada, desculpe, quero apenas pagar as
compras...
“Naquele
país tão organizado o que poderia eu ter feito de errado?”
De repente a
funcionária, provavelmente alertada pelo meu jeito de falar, abriu um sorriso e
perguntou:
̶ Desculpe, mas de onde a senhora é? Como tem
estas notas?
̶ Sou do Brasil. As notas foram dadas pela minha
sogra de presente de aniversário para o neto que está aqui ao meu lado.
̶ Mensch
* ! exclamou. Essas notas já não valem há mais de cinco anos. Mas a senhora
ainda pode trocá-las até o fim do mês em um banco. Foi o que fizemos no dia
seguinte.
̶ Que sorte! Exclamou meu filho ao receber as
notas novinhas do banco. ̶ Mais uns dias
e eu perderia o presente da vovó!
Em outra viagem foi a vez de meu marido receber olhares estranhíssimos
como se tivesse aterrissado de outro planeta. Era a primeira vez que viajava à
Alemanha. Adianto que ele fala muito bem alemão, aprendido na infância de seus
pais e avós. Enquanto esperava na plataforma de alguma cidadezinha onde faria
baldeação observou os vagões parados carregados de materiais que lhe pareceram
muito estranhos. Nunca tinha visto igual.
Eram grandes como abóboras, mas redondas e de cor amarronzada. Achou que
eram vegetais, mas não tinha certeza. Resolveu perguntar ao casal de idade que
como ele esperava o trem.
̶ Boa tarde!
Perguntou sorridente, em perfeito alemão. O que é aquilo naqueles vagões?
Os dois se
entreolharam e o homem, entre espantado e irritado, retrucou:
̶ O senhor esta
me gozando ou é um bobo mesmo?
̶ Me desculpem,
acontece que venho do Brasil e realmente não sei o que é aquilo? É um tipo diferente de batatas? perguntou o
desconcertado forasteiro.
Com essa
explicação, os dois “nativos” começaram a rir.
̶ Não senhor, e
desculpe a nossa reação. É que o senhor fala alemão muito bem para um
estrangeiro. Aqueles vegetais são beterrabas de açúcar. É de onde extraímos o
açúcar mais usado aqui. O açúcar de cana que o senhor tem no seu país para nós
ainda é muito caro.
Os dois
episódios são relembrados nas conversas em família como
“as visitas
dos marcianos à Alemanha”.
(*) –
exclamação de espanto, assim como Gente!
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