DINORAH E SUA PRESA
Oswaldo U. Lopes
Dinorah fingia
estar dormindo quando o marido entrou em casa de madrugada, Há dias ela andava
investigando as escapadas de Francisco. Já possuía a senha do seu e-mail e das
redes sociais, já conhecia o desbloqueio do celular dele. Ela o cercaria de
todas as maneiras, estava farta de passar por idiota! Mandou instalar um
gravador no telefone fixo do escritório da casa e uma câmara escondida na
garagem. Dinorah sentia-se forte e detinha muito poder sobre sua presa...
Bem
e o que sentia sua presa? O mesmo que muitos homens de cinquenta e poucos anos.
Certo sucesso na carreira e certo enfado do cotidiano. Tinham uma vida
relativamente folgada, filhos também relativamente criados e uma boa casa. Ah
as madrugadas, as reuniões no banco estavam ficando cruéis, se não fosse pelo
bônus, tinha vontade de chutá-las. Parece que quanto maior era o sucesso e o
ganho monetário, mais os caras queriam reuniões. Aja saco!
A
investigação de Dinorah não fora totalmente em vão. Descobriu uma aventureira
no facebook que atendia pelo nome de Célia. A vigarista não tinha retrato, mas
escrevia com muita intimidade para ele, recordando tempos de infância e
momentos felizes JUNTOS!!! Ia mostrar para ele com quantos paus se fazia uma
canoa ou uma jangada. Miserável trocando-a por uma amiguinha de infância, ou
seja, lá o que fosse.
Enfim
chegou o grande momento. Dinorah interceptou uma troca de correspondência em
que um retrato era prometido, embora anunciado como não de muito boa qualidade.
Confirmado
o retrato, deparou-se com uma mulher de quarenta e poucos anos, bonita,
elegante e que aparecia com um véu, muçulmana matutou? Resolveu que já tinha o
material necessário, esperou pela chegada do marido e fulminou?
─
Quem é a sirigaita?
─
Siri o que?
─
Gaita
─
Ah! Bem Gaita o Romano tocava gaita, mas faz tempo que não o vejo.
─
Não se faça de Miguel!
─
Vai ser difícil até porque me chamo Francisco.
─
Não banque o cínico engraçadinho. Aquela que no facebook se identifica com
Célia e usa um véu, é muçulmana?
─
Ah! A Célia é minha irmã quadrática.
─
Que porra é essa de irmã quadrática? Dinorah estava por um fio.
─
É irmã por parte de pai, além disso, é freira, irmã. Ou seja, duas vezes irmã.
Pertence a Ordem das Missionárias de Jesus Crucificado, andou pela Amazônia e
fazia uns vinte anos que eu não tinha noticias mais detalhadas dela. Agora
voltou para a Casa Mãe que é em Campinas e retomamos contato. Não sei se
você sabe, mas as missionárias só usam o hábito no convento, na rua se vestem
como qualquer pessoa. Às vezes, algumas, talvez por modéstia, usam um véu na
rua. Acho que a fotografia que você viu no meu facebook foi tirada na rua. Ela
esta bonita na foto não?
─
Dinorah rosnou. Você nunca me falou dela.
─
Ela estava um pouco ausente da minha vida. Se você topar podemos convidar ela
para jantar na quinta-feira que tal?
─
Mais um rosnado. Está bem.
Para
si mesmo Dinorah ia pensando: com homem é bom não baixar a guarda, o sistema de
vigilância vai continuar a ser usado.
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