Cara ideal
Ises A.
Abrahamsohn
Milena aplicou
mais umas gotas do caro perfume da mãe. Tinha caprichado no visual: roupa, sapatos
e maquilagem. Seria seu terceiro encontro com Renato. O potencial namorado de
vinte e tantos anos tinha encantado a garota. Conversaram muito sobre música,
filmes e trilhas percorridas para observar a natureza. Milena ficara impressionada
com a gentileza e boa educação do rapaz. Pensou em como Renato era diferente
dos caras que conhecia. A maioria queria ficar já no primeiro encontro.
Hoje iriam a
uma balada promovida por um amigo dele. Milena saiu do prédio e logo o viu no
anônimo carro azul parado a poucos metros.
Também isso gostei nele, pensou. “Nossa, que careta,
pareço minha mãe, mas é verdade, não gosto de exibidos, detesto os caras que mostram a grana que tem.”
Milena
deu-lhe um rápido beijo. ̶ Você está linda, disse o rapaz
percorrendo-lhe o corpo com olhar
guloso. Ela ficou meio sem jeito. Aquela avidez do olhar era nova no Renato. Refletiu: ̶ bem, ele nunca me viu vestida assim, e eu hoje
caprichei, então não é de estranhar.
Mas Milena estranhou mesmo, quando dez minutos depois,
a mão do rapaz pousou na sua perna. Resolveu levar na esportiva e brincou: ̶ Oi Renato, melhor ficar com as mãos no volante. Mas o rapaz ligou
o rádio e deixou a mão onde estava. Ao sentir a mão avançar, ela se irritou: ̶ Cara, o que é que há? Não gosto de ser tratada assim. Você está
diferente hoje.
̶ Está bem querida, depois você amolece e aí
nós vamos curtir a noite. Deixa eu pôr outra música. Detesto esses caras da
Pearl Jam.
Foi nesse momento que Milena percebeu algo muito
errado.
̶ Não é possível! A Pearl é a minha banda oldie preferida e você me disse na semana passada que também era a sua! Ou será que desde o começo
você me enrolou? Ou você não é o Renato?
O rapaz deu uma gargalhada. ̶ É gatinha, eu disse pro Renato que não ia dar
certo! Eu sou o Roberto, irmão do Renato. Como vê, somos idênticos, mas muito
diferentes. Ele não podia vir e acertamos que eu levaria você à balada.
Milena, furiosa, reagiu: ̶ Pois saiba que eu não quero mais saber nem de Renato,
nem de Roberto! Pare!
Desceu e chamou um táxi. Só então desatou a chorar.
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