Aquela manhã inesquecível
Fernando
Braga
Feriado de nove de julho de 2008, os
filhos haviam sido convidados com suas esposas e filhos pequenos, para
almoçarem com os pais, que moravam no Alto dos Pinheiros. Fulano, o pai, resolveu levantar-se mais cedo
para ir ao supermercado fazer mais algumas compras. A empregada que viera
aquele dia para ajudar no almoço já havia chegado, preparado o desjejum e
estava na cozinha ajeitando as coisas. Cumprimentou
seu patrão que acabara de sentar para tomar o café da manhã e saiu para colocar
a lata de lixo fora, no portão.
Sentado à mesa viu de repente, entrar
sua empregada, e com ela três indivíduos armados, empurrando-a. Colocaram-na
contra a parede e apontaram uma arma em direção ao Fulano, que automaticamente levantara
os braços:
— Fique quietinho se não quiser levar
bala. Viemos fazer nosso trabalho e não se arrisque a reagir ou nos negar nada.
Somos justiceiros.
Trancaram a porta da cozinha, foram
todos para dentro da casa, e as vítimas colocadas no sofá, com uma arma apontada
para eles. Perguntaram se havia outras
pessoas na casa e Fulano disse que sua mulher estava ainda deitada. Ao pedir
que não a importunasse, levou um soco na cara e a advertência para que não se
manifestasse, ou se arrependeria. Dois bandidos subiram as escadas e foram ao
quarto. Ao entrarem e acordá-la, Sicrana levou um susto enorme, sentou-se na
cama e começou a gritar. Levou uma coronhada e um travesseiro foi colocado
contra seu rosto temporariamente. Fizeram advertência para que ficasse quietinha ou seu marido que
estava lá embaixo, seria morto.
Foi levada, do jeito que estava, apenas em
sua camisola e, colocada ao lado do marido. A empregada foi presa no lavatório,
com a recomendação de que não piasse. Inicialmente, perguntaram a Fulano se havia o
cofre em casa, o que foi confirmado:
— Sim, um dentro do armário de nosso
quarto.
O
dono da casa teve que subir junto com dois deles até o cofre e abri-lo. Enquanto
um vigiava Fulano, o outro revirava o cofre. Encontraram o que procuravam:
joias, reais, dólares e euros, em quantia razoável que os deixou satisfeitos.
Pegaram bebidas caras, roupas masculinas e femininas, uma televisão de 50¨, aparelho
de som, computador, etc. e levaram tudo em direção ao carro que estava na
garagem.
Fulano conservava a calma, temendo duas
coisas: que estuprassem sua mulher e que chegasse um de seus filhos: “Que se vão as joias, mas fiquem os dedos!”
Nesta hora tocou o telefone e os
bandidos pediram para que ninguém atendesse. Tocou mais uma, duas, três vezes e foi
quando Fulano disse:
— Deixe-me atender que deve ser um de
meus filhos. Posso conversar rapidamente com ele, sem que suspeite do que está se
passando.
— Tá bom, mas se levantar qualquer
suspeita você é homem morto!
O telefone tocando novamente, o bandido colocou
a arma na cabeça de Fulano e lhe passou o aparelho.
— É você filho?
— Não atendi antes por estar tomando
banho. Que horas vocês vêm?
— Está bom, não se esqueça de que amanhã
vou para a o Rio de Janeiro.
— O que pai?
— Amanhã cedo vou para o Rio!
— Entendi pai!
— É claro filho, vou para o Rio de
Janeiro sozinho. Tchaau!
Os bandidos, satisfeitos pediram a chave
do carro e começaram a colocar todos os roubos dentro do porta-malas. Pediram o
clique do portão, colocaram todos juntos presos no banheiro, após se
certificarem de que não tinham um celular e se preparam-se para a fuga. Antes
de saírem, um deles deu um agarro na Sicrana, e foi contido pelo marido, que
recebeu nova porrada.
—Vamos
logo Tiãozinho, deixa ela, estamos com pressa! - Replicou o chefe deles.
— Temos que pegar nosso carro na frente
da casa e, você vai fazer isto. Nós vamos no carro do patrãozinho e nos
encontramos mais tarde.
Abriram o portão e já iam saindo, quando
entraram quatro policiais armados, que os esperava junto ao muro, na frente da
casa. A rua estava bloqueada pela polícia. Foram capturados sem que pudessem reagir. A
casa caíra! Entenderam que seriam mortos caso reagissem.
Os
guardas, junto com o filho do casal entraram na casa e libertaram os pais e a
empregada. Nada do que haviam roubado foi perdido, tudo recuperado!
O filho abraçou os pais e disse:
— Que bom pai, termos combinado esta
senha em caso de perigo! Você sempre nos avisava e repetia, que a senha,
deveria ser usada se tivéssemos algum bandido dentro de casa.
— No começo quando o senhor falou comigo
e, sem qualquer razão, disse que ia viajar para o Rio, fiquei sem entender, desnorteado, mas
lembrei-me de que era a nossa senha de perigo. Funcionou!
A polícia preferiu não entrar na casa,
mas aguardar pela saída dos ladrões, para não haver risco de vida.
Vale a pena estas combinações de
família, um assovio característico, uma senha ao telefone, uma mensagem no
celular, que seja de conhecimento de todos!
Que café da manhã atribulado teve Fulano,
o que passou naquele dia, os atormenta até hoje. Se tiverem planos, códigos em
família, devem seguir à risca.
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