OGENKI DESU KA?
Mario
Augusto Machado Pinto
Há
alguns anos, nas férias em família, um dia que estava na praia quase vazia, no
Gonzaga em Santos, vi uma pessoa sentada em uma dessas cadeiras de lona com
proteção contra o sol escaldante. Todo mundo quer se aproveitar do sol e essa
pessoa quer se proteger? Raro e esquisito. Fiquei intrigado e, indo devagar em
sua direção, como sem querer nada, assim meio sonso, na curiosidade dos meus onze anos, eu queria
ver quem era.
A figura foi ficando mais clara à medida que
me aproximava. Chegando mais perto a tal figura acenou como dizendo “Vem, vem, chega aqui”. Era um homem totalmente
vestido com uniforme de gola fechada no pescoço, de polainas até os joelhos,
quepe na cabeça (como é que aguentava o calor?), e imagine: tricotando. Caramba, fazendo tricô e com linha vermelha!
Olhei bem e aí caiu o queixo, era japonês,
pequeno, a sola das botinas não alcançavam a areia! Pô, quando eu contar ninguém vai
acreditar, só vendo. Aí estatelei de vez quando sorriu simpático e disse algo
que soava como “Ogenki desu ka?”, pelo
menos foi o que entendi,.
Era
tudo tão diferente que ri muito, descarregando a tensão. À minha pergunta de por
que estava ali vestido naquele uniforme e tricotando naquele solão, respondeu
que estava descansando do trabalho de cuidar dos filhos do patrão e guiar o
auto da família.
Conversamos
um pouco. Acabou se oferecendo pra me ensinar tricotar, eu agradeci dizendo” Não, ora, é coisa de mulher”. Não gostou
e me mandou embora “Xô, xô, garoto. Vai,
vai, menino feio”.
Saí
correndo, com medo, mas valeu a pena. Afinal, podia dizer que falava japonês (pelo
menos o som): Ogenki desu ka, arigato,
sayonará, nissei, sansei... É assim?
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