PASSOS
INTRIGANTES
(texto escrito à vista de uma foto de São Paulo de
1946)
Ledice Pereira
Mathilde e Jayme estavam casados há seis meses. Gostavam de passear
pelas ruas do centro da cidade de São Paulo nos idos de 1946.
Ele trabalhava na Casa São Nicolau, na Praça do Patriarca e ela,
professora da Escola Caetano de Campos, costumava encontra-lo, algumas vezes,
para almoçarem ou tomarem um lanche na Confeitaria Campo Belo ou em frente à
Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
Como ela trabalhava no período da manhã, assim que terminavam as aulas,
dirigia-se rapidamente em direção ao amado.
Atravessava a Barão de Itapetininga, passava pelo Teatro Municipal e
depois de vencer o Viaduto do Chá encontrava-se com Jayme.
Depois, voltava para casa onde o trabalho de arrumar, lavar e passar a
esperava.
Naquele dia, entretanto, desconfiou que estivesse sendo seguida.
Olhou para trás, algumas vezes, e não viu ninguém que parecesse
persegui-la. Mas era só começar a andar e a sensação de ouvir aqueles passos
cadenciados, tão próximos de si, fez com que andasse ainda mais rapidamente,
quase correndo.
Começou a suar. Um pouco por ter corrido, um pouco pelo medo que gelava
suas mãos.
O coração batia forte e descompassado.
Segurou a bolsa firmemente enquanto pensava numa forma de despistar seu
perseguidor.
Atravessou no meio dos carros que passavam pelo Viaduto do Chá, levando
algumas buzinadas e uns xingamentos.
Estava a quase cem metros de seu destino quando sentiu uma forte mão em
seu ombro. Gelou!
Paralisada, ouviu:
─ Você não é a Mathilde, filha da Francisca? A princípio fiquei em
dúvida, mas depois tive a certeza. Sou o Ruy, filho do tio Zezé.
─ Nossa, você anda muito depressa. Quase não consegui acompanhar. Onde
está indo? Gostaria de saber de todos. Há tempos não tenho notícias de ninguém.
E Mathilde, que suava por todos os poros, sem ter coragem de contar
sobre seus receios, convidou-o para almoçar com ela e o marido, quando
colocaram todos os assuntos de família em dia.
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