FÉRIAS NA CASA.
Mario
Augusto Machado Pinto
Eles
partiram cedo arrastando malas para as calçadas. Até a partida era uma felicidade
só! A casa ficaria de novo em silêncio, ninguém treparia no abacateiro, ninguém
faria barquinhos de papel para navegarem no lago, tudo ficaria esperando pelas
próximas férias. Havia muito riso dentro de todos, e muita alegria ainda para
ser compartilhada. Ficaria para o ano seguinte. E foi assim que os dezembros
voltaram a ser festivos outra vez.
Eles
são assim mesmo: barulhentos, alegres e risonhos apesar do empurra-empurra a
todo momento buscando contato físico, o Fábio assoviando, e o irmão Claudio que
detesta aquele som estridente e contínuo a cutucar seus ouvidos dizendo na gozação
– Toma cuidado, cara, que o assovio cai no chão e quebra de vez. E a resposta
furiosa – E eu quebro você! E o Claudio às gargalhadas – Tô esperando pra crer.
É
interessante depois de ausentes por tanto tempo observar a mudança no comportamento
das crianças. Crianças? Tô maluco seo! São uns marmanjos que ajudei a criar,
mimar, castigar e proteger. Incrível como cresceram, são uns bitelões
desengonçados, de voz de falsete, verdadeiros macacos numa loja de cristais.
Vou perguntar a opinião da minha Cida. Vai ser meio difícil que diga alguma
coisa: ela pensa muito e fala pouco, a minha mudinha do coração.
-
Cida, o que você achou da turminha? Perguntei
e ela ficou olhando o teto, ruminando seus pensamentos e falou, olha só, falou:
-
Mudou, é, mudou. Lembro deles pequenos brincando de pega-pega agarrados à saia
da dona Tetê, coitada, que já não se aguentava em pé, correndo com os dois,
brincando com eles à beira d´água fazendo castelinho com pingos de areia
molhada, o monte Vesúvio, lembra, que soltava fumaça pela ponta. Ela deitada
coberta de areia até o pescoço e os dois jogando água nela! Agora eles fazem
isso com a Rica, a filha da vizinha. Ela acha ruim agitando as pernas, mas ri
gostando, e você incentiva esse tipo de brincadeira gritando mais areia, mais
areia, seu sem vergonha. É isso, é, mas
eu gostei muito, vai ser difícil esperar chegar dezembro, não é mesmo, seu gozador
de meia-tigela?
Essa
é a minha Cida. Ela tem razão. A mudança é muito grande e eu me pergunto se vamos
conseguir acompanhar. Agora ficamos aqui como caseiros, ela cuidando da casa, eu
fazendo concertos. Mas, prometo, vou fazer exercícios, correr na praia,
dormir cedo e comer muito peixe. Tomar uma cervejinha de vez em quando, etc e
tal. Admirar o céu, o sol, a lua, as estrelas, as gaivotas correr onda e ir atrás
dos siris e, ahn, ia me esquecendo, ficar moreninho, que a Cida gosta. Olhar o
mulherio em volta não vai ser pecado, todo mundo faz, por que não eu?
Vou
voltar a praticar coisas que gosto como me imaginar no céu correndo com as
nuvens, pintando de azul escuro, roxo, laranja e, por minha conta, de verde e
abóbora; pegar estrelas e jogá-las pra Cida – que já estará dormindo. Imaginar
uma novela com os anjos e o capeta voando e lutando pelo espaço negro salpicado
de brilhantes e eu, juiz máximo, dizendo – Calma meninos, calma. Amanhã tem
mais. Vida melhor? Não há.
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