RUÍDOS DO
SILÊNCIO
Sérgio Dalla Vecchia
Eu rolava na cama na casa dos meus avós, em uma
pequena cidade do interior de São Paulo.
O sono não vinha, parecia que as horas não passavam
naquela noite de verão. Era o início das minhas férias e eu teria de acordar as
seis horas da manhã.
A ansiedade dos meus quatorze anos se justificava por
ser a primeira noite, sem o meu querido avô. Ele havia falecido há três meses e
naquela noite estávamos apenas minha avó e eu. O velório havia sido na própria
casa.
O movimento nas ruas era muito pequeno e o silêncio
era quase absoluto.
A insônia persistia em meio a escuridão e o silêncio
era quebrado pelas badaladas do velho relógio da sala. Eu ouvia perfeitamente o
prelúdio das cordas desenrolando para desferirem as fatídicas badaladas; BLÉM... BLÉM... BLÉM... das dez, das onze e as sinistras doze da meia noite.
Com o som da décima segunda badalada eu já
transpirava de medo e adentrava assim pela madrugada.
Da rua de cima, vez ou outra eu escutava os TOC,
TOC, TOC, TOC do trotar de um cavalo no calçamento de pedras. Os tchá, tchá,
tchá, tchá, quando um outro passava pela rua cascalhada do lado debaixo do
quarteirão.
Raramente se ouvia o ronco do motor de algum
veículo, mas quando surgia algum eu sabia até a distância que ele se encontrava
da casa.
A madrugada avançava em meio ao som do silêncio,
quando um besouro com seu bater de asas característico trombou com o vidro da
janela produzindo um barulhão abafado me aguçando ainda mais a vigília.
Assim, após a longa noite mal dormida, o dia
clareou, e logo depois escutei o ronco da camionete Chevrolet do meu tio
chegando. Eram seis horas da manhã.
A felicidade de ir para a fazenda me fez esquecer totalmente
a fatídica noite.
Rezei para a alma do meu querido avô e nunca mais
insônia tive.
Nenhum comentário:
Postar um comentário