Saudades do meu pai - Angela Barros

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Saudades do meu pai

Angela Barros

      
        - Correio! Correio! Essa era uma palavra mágica na minha casa.

        - Mamãe, mamãe, o carteiro chegou!

        A porta da casa era escancarada e escutava-se o blam! plan! quando a gurizada saia em disparada aos gritos num verdadeiro tropel de cavalos para o portão, onde encontravam o carteiro sorridente com os braços levantados e um telegrama à mão:  

        - Opa, opa, calma criançada!

E as mãozinhas estendidas ao alto tentavam em vão agarrar a correspondência, como se quisessem alcançar um tesouro.

        -  Dá pra mim, dá pra mim! - Gritavam todos ao mesmo tempo.

O carteiro era um rapaz jovem que não passava dos trinta, tinha a pele queimada pelo sol, e a boca sem dentes, gostava de nossa algazarra quando chegavam cartas, e por isso se detinha por um bom tempo nessa brincadeira:

        — Quem vai conseguir pegar? Quem quer? e ria da nossa alegria.

        — Ninguém pegou!? Não tem jeito, crianças, vou entregar para Dona Genilda.

E num coro gritávamos:

        —   Ah! -  e nosso peito inflava de emoção e curiosidade.
       
        Depois num movimento de extrema urgência nos virávamos para mamãe, que sorria feliz. Era o bastante para esquecermos o carteiro.

        Mamãe excitada com a chegada de notícias, se ela fosse criança, certamente,  estaria disputando a correspondência conosco.

        Lembro do braço longo de Antonio passar sobre nossas cabeças num vlap! vlap! e encontrar a mão de mamãe que logo segurava o envelope.

        Rodeada pelos filhos agarrados à saia, não conseguia ir além dos degraus da entrada. Ali mesmo se sentava e os diversos pares de olhinhos curiosos tentavam junto com ela decifrar o texto.

        - Oba, oba, o papai vai chegar!

Como ele viajava muito a trabalho, seu retorno para casa era sinônimo de muita alegria.

        Todos os anos quando o Dia dos Pais se aproxima lembro com saudades daqueles dias. Tudo era diferente lá em casa. Mamãe fazia um monte de comidas gostosas, podíamos ficar acordados até mais tarde. No domingo  depois da missa o almoço era na casa de uma tia que tinha um  monte de animais no quintal, galo, galinhas, pintinhos, papagaio e um cágado enorme. Coitado, era uma briga para passear encima dele. Nós o seguíamos por todos os lados.

        Outro dia quando meus filhos chegaram em casa para almoçar eu estava com os olhos cheios de lágrimas.

        - Mamãe, o que está acontecendo?

        - Não é nada, meus filhos! São saudades, saudades da minha infância, do meu pai, quando o carteiro chegava com um telegrama na mão.


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