Menos um - Ises de Almeida Abrahamsohn

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Menos um
Ises de Almeida Abrahamsohn

O diabo era a falta da droga. Não tinha grana pra comprar e o traficante não fazia fiado. Vendera o que tinha e mais o que conseguia roubar aqui e ali. A polícia já estava de olho nele. Há uma semana conseguiu uma carteira com algum, mas já fumou tudo. Anteontem quase o pegaram. O cara gritou e Carlos saiu correndo ao ver o carro da polícia. Rendeu uma mixaria, só tinha vintão na carteira e um bilhete de metrô. Encolhido na barraca da Dino Bueno onde vivia há dois anos, o rapaz sentia a náusea, a tontura e começou a tremer. Precisava da droga... Até a barraca tentou trocar por algumas pedras, mas nenhum dos nóias se interessou.

 ̶ Estava esfarrapada, ninguém queria, podre assim como eu... , remoeu, com o tremor aumentando, a boca seca e a visão se turvando. Saiu da barraca alucinado, precisava de grana, precisava da droga.... Andou no meio do fluxo, os traficantes oferecendo e zombando...

 ̶  Como é Carlinhos, vai uma pedra, arrumou a grana? Tá me devendo! Se não paga até amanhã, te encho de porrada.

Nem prestou atenção.

 ̶  Que se f....m   . Precisava era uma boa pedra, e dinheiro, dinheiro para as pedras. Com dinheiro daria um jeito no resto.

Viu o homem bem vestido caminhando na direção da Sala de Concertos. Carlos foi por trás, deu-lhe um tranco, arrancou a carteira e correu para o fluxo. Alertado pelos gritos da vítima um policial saiu em sua perseguição. Mas as pernas franzinas e a tontura o fizeram tropeçar. Caiu e apavorado puxou a faca. O policial não hesitou. Atirou duas vezes. Disse que mirou nas pernas. Só que acertou direitinho no tórax. Infelizmente, segundo ele. Ou talvez felizmente para muitos dos transeuntes que passavam para espiar o corpo magro onde o sangue estampava em vermelho a camiseta encardida.


 ̶  Um a menos, sentenciou um dos curiosos.

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