QUANDO AS FORÇAS SE UNEM
Sergio Dalla Vecchia
Na feira livre em bairro nobre da cidade, a dona de
casa da classe média chegou bem cedo.
Apesar do horário, os corredores estavam lotados e
para aumentar a confusão começou a chover. Era um corre-corre para todos os
lados em busca de abrigo. Os precavidos que portavam guarda-chuvas abriram-nos
simultaneamente, causando inevitáveis enroscos.
Os gritos peculiares dos vendedores de frutas eram
ouvidos a distância:
— É a dez para acabar, vai levando, já levou.!
— Moça bonita não paga, mas também não leva!
Os carrinhos de feira e as sacolas que eram os
acessórios utilizados pelos clientes em meio à confusão tornaram o tráfego congestionado,
eram carrinhos trombando, sacolas se abrindo e
gente se esbarrando.
Lucinha estava com o carrinho em frente à banca de
frutas, enquanto escolhia as melhores laranjas e ia colocando-as em um saco.
Nesta época do ano as frutas cítricas estão exuberantes,
contendo muito sumo e são ricas em vitamina C.
Nesse momento um jovem correndo lhe deu um
esbarrão, veio não se sabe de onde, ela pode até ouvir o respirar sôfrego da
desenfreada corrida do garoto. O saco de laranjas se soltou e as frutas se
espalharam pelo calçamento num balé rápido e colorido.
O grito pelo susto foi alto, Lucinha apenas pode
vê-lo pelas costas quando já mantinha certa distância, e continuava em
disparada. A jovem senhora, quieta e com o olhar penetrante em direção ao
garoto, blasfemou muito em pensamento.
Nesse ínterim, outro menino vestido com um
surrado jaleco, adiantou-se e imediatamente se pôs a recolher as laranjas.
Com a ação do menino, o vendedor logo foi dizendo:
—Pois é madame, enquanto um passa correndo fugindo
da polícia esse aqui me ajuda, trabalhando como gente grande. Consegui
matricula-lo no período da tarde na escola pública e ele está se saindo bem.
Tenho certeza de que será um ótimo rapaz. Não tem tempo para o mal caminho!
Lucinha olhou para o menino com um sorriso, passou
a mão sobre sua cabeça e lhe agradeceu a gentileza.
De volta para casa, Lucinha não esquecia o ocorrido
e questionava o porquê das atitudes antagônicas dos dois meninos.
Pensou e chegou à conclusão de que o mínimo que
poderia fazer, era ajudar um menino carente a estudar para se tornar um homem
digno.
Procurou uma instituição que faz trabalho social especializada
no assunto e assumiu de imediato uma criança como sua afilhada para poder assisti-la
durante toda a sua trajetória.
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