Mudanças
Maria Verônica
Azevedo
Era o aniversário de sete anos de Alice.
Ela foi acordada logo cedo por seu pai, que tinha uma expressão entusiasmada no
rosto. Ele lhe trouxe de presente uma novidade: uma caneta. Era um objeto
delicado, com tampa de ouro e uma inscrição gravada: o nome da filha.
A menina, habituada com o lápis, nunca
tinha usado uma caneta. Olhou com estranheza para o objeto e saiu para brincar
deixando-o jogado sobre a escrivaninha. O antigo móvel de madeira entalhada,
que tinha sido de sua mãe quando criança, já tinha testemunhado muitas
mudanças. Atravessara três gerações desde o tempo dos avós de Alice.
Depois de alguns minutos uma voz elegante
e sofisticada rompeu o silêncio do quarto:
— O que você vem fazer aqui? Ninguém
precisa de você.
Era a voz do lápis que jazia sobre o
bloco de papel.
Em resposta veio outro timbre de voz
alegre e despreocupada:
— Ora! Eu cheguei trazendo a
modernidade.
— Que modernidade que nada. Você trouxe
foi complicação.
— Imagine. Eu escrevo mais macio e com
mais nitidez e não preciso de apontador.
— Mas você suja as mãos de quem a toca e
acaba manchando a roupa. Além disso, se a tinta acabar, não vai servir para
nada. Eu dou liberdade a quem me usa. Com a ajuda da minha amiga borracha,
permito que mudem de ideia.
— Não adianta espernear. Eu sou o
futuro. Você vai ver.
Alice foi crescendo e a caneta tornou-se
sua companheira, mas por pouco tempo.
Quando chegou seu aniversário de quinze
anos, convidou todos os seus amigos para uma festa muito animada. Na hora do
bolo, surgiu seu pai com um sorriso satisfeito e um pacote nas mãos. Era o
presente. Ao abrir o embrulho foi uma
surpresa geral. Todos os amigos aplaudiram.
A aniversariante ganhou um computador
portátil que passou a levar para todo lado.
Os lápis e canetas ficaram esquecidos na
gaveta da sua antiga escrivaninha.
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