Amor
Paternal
Ledice Pereira
A
saudade dói profundamente. Saudade dele, do seu olhar pra mim, da sua
preocupação comigo, da sua proteção.
Ele
não era uma pessoa fácil. Era introspectivo, sério, na dele. Mas quando se
tratava de mim, tudo mudava. Seu olhar era de muito amor. Era meu fã
incondicional. Tudo que eu fazia lhe dava orgulho. Era um amante da língua portuguesa e, talvez por isso, eu tenha
seguido seu caminho. Escrevia com sua letra desenhada, impecável. Fazia
poesias, inclusive pra mim.
Até
meu nome, cujo significado é “alegria”, foi ele quem escolheu.
Como
era muito metódico exigia que eu seguisse seus passos. Entretanto, eu era muito
diferente o que provocava certos atritos que não tinham consequências
duradouras. Nenhum dos dois conseguia ficar de cara virada por muito tempo.
Ele
contava, dando muita risada, que quando eu tinha uns cinco anos ficou bravo
comigo por alguma coisa e no dia seguinte se arrependeu. Querendo fazer as
pazes, quando eu iniciava meu café da manhã, ele me perguntou:
─
Seu café tá bom?
Ao
que eu respondi:
─
O seu está?
─
Está – ele respondeu.
E
eu retruquei muito séria:
─
Então o meu também deve estar porque foi feito na mesma hora.
Aos
finais de semana, costumava me levar pra passear. Quando o parque do Ibirapuera
foi inaugurado eu tinha nove anos e ele me levou, algumas vezes, para brincar
no parque de diversões que lá havia. Lembro-me que eu gostava de andar no
carrossel, nos carrinhos e em todos aqueles brinquedos que giravam. E, como eu
dava um “tchau” a cada volta, ele se virava para o outro lado para não pagar o
mico de ter que me acenar tantas vezes.
Quando,
na adolescência, ele me viu entusiasmada com o vizinho, um ano mais velho do
que eu, não conseguiu esconder seu ciúme e passou a controlar, ainda mais, os
meus passos.
Quando
eu me casei ele bem que tentou, sem conseguir, disfarçar o ciúme que sentia de
mim com meu marido.
Hoje,
eu gostaria muito de tê-lo comigo, mesmo com todo ciúme, mas com aquele olhar
de admiração que exprimia todo seu amor por mim.
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