Quando a Cia. Paulista de Estradas de
Ferro chegou até Saldanha Marinho, meu pai festejando esse maravilhoso transporte,
comprou o Sítio Nena nas proximidades. Era grande, uma fazendinha. Prevalecia
no município o cultivo da cana em razão da Usina da Barra estar perto.
Claro que a cana dominava, porém ele era
autossuficiente nas demais necessidades. Não abria mão de ter seus animais, seu
pomar, e seu tanque de pesca logo depois da cachoeira.
Adorava quando o percorrendo, coincidia
com o trem cruzando suas terras.
Numa das vezes, a caminho do morro Antu,
encontramos a composição vencendo dormentes, espargindo vapor com seu apito e o
som provocado a cada emenda dos trilhos. Meu pai, atento falou:
— Sempre que ouço essa chegada, meus
ouvidos criam uma melodia. Acho que é sertaneja, não consigo perceber qual.
Eu ainda moleque não me contive:
—Pai, eu sei uma.
—Cante filho, então...
—Toca fogo seu foguista,
Fia da Luta maquinista.
O pai deu uma gostosa risada. Seguimos
para nosso destino. Procurávamos um
escondido formigueiro que vinha a várias noites dizimando a horta da Nena.
Mato
rasteiro, nossos pés se escondiam no meio do capim touceira que com o vento constante
nos morros, uivavam como lobo secando a lua.
— Filho, ainda tenho na mente a danada
daquela música.
Preste atenção, fique em silêncio, vou me fechar e ver se me
lembro.
— Ok pai...
Pai... Tem carroça nessa área?
— Que eu saiba não, filho.
— Escute, pai. O vento aqui agita as
coisas, faz sons. Ouço longe um trotar de cavalos, parece carroça batendo
caçamba vazia. Vozes perdidas dos cocheiros, nem sei de que lado vêm.
— Filho. Há muito tempo, há muito tempo
mesmo, este morro serviu de cemitério... antes que escureça, acho que está na
ora de...
— Pai. Que formigueiro, que nada. Vamos
cair fora. Fui.
O
filho desembestou morro abaixo.
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