O PREÇO DE UMA ATITUDE
Sergio
Dalla Vecchia
Sentada
em um banco de concreto, no pátio de uma Penitenciaria Feminina, lá estava
Consuelo aos prantos.
Tudo
passava pela sua cabeça naquele momento; as idas às Maternidades observar
crianças no berçário, a oportunidade de ser mãe, o plano e finalmente o
sequestro de um bebê.
Consuelo
havia feito várias tentativas para engravidar, mas infelizmente as gestações
não passavam de 90 dias.
Certo
dia em desespero, tentou o suicídio cortando os dois pulsos. Só não morreu face
a presteza do marido em socorrê-la.
A
obsessão para ter um filho era intensa. Por vezes postava-se em frente a um
berçário e ali permanecia por horas observando os bebês. Chorava piano, diante
de tantos recém-nascidos, pela angustia de não ter gerado nenhum deles.
A
obsessão cresceu a tal ponto, que Consuelo tomou uma atitude radical de
sequestrar um daqueles bebês.
Assim
o fez.
Numa
ação muito arriscada, convenceu a enfermeira a lhe entregar a criança para que
a segurasse no colo, fingindo-se ser a madrinha.
Num
descuido da responsável, ela saiu sorrateiramente da Maternidade, levando
consigo um bebê acomodado dentro de uma sacola, previamente adaptada para o
feito.
A
fisionomia de Consuelo era outra. Era uma mistura de medo e extrema felicidade.
Não via a hora de chegar na nova casa, localizada em uma cidade próxima, onde
nem os parentes a conheciam.
Lá
chegando, o bebê encontrou um quarto muito bem decorado, um berço confortável e
o calor de Consuelo.
O
bom marido, entre deixar a mulher reviver e pensar na depressão que a sufocava,
acabou aceitando a situação.
O
bebê era uma menina branca e foi batizada com o nome de Bianca, pela alvura de
sua pele.
O
tempo passou e Bianca foi tratada com muito amor e carinho pelos novos pais.
Nada lhe faltava. Podia-se dizer que eram ideais, sem a mínima sombra de
dúvidas.
Acontece
que os abatidos pais biológicos, nunca desistiram da busca do paradeiro da
filha desaparecida. Vinham fazendo de tudo para encontrá-la, mas não obtinham sucesso.
A
única pista, era a de que a criança nascera com dois dedinhos do pé direito
colados. Essa pequena anomalia embriológica é chamada de sindactilia.
Por
ser médica, a mãe biológica havia detectado o problema ainda na Maternidade e
já pensava em autorizar uma pequena cirurgia corretiva. Coisa que Consuelo não
o fez, por achar que de tão sutil, não haveria necessidade da menina sofrer de
ansiedade pela intervenção cirúrgica.
Por
ironia do destino a médica (mãe biológica) foi convidada a fazer uma palestra
aos estudantes do segundo grau de uma Escola, justamente na cidade onde Bianca
morava.
A
palestra sobre doenças tropicais foi um sucesso. A médica foi aplaudida de pé
pelas crianças. Ela de tão satisfeita se propôs a esclarecer dúvidas para quem
quisesse.
A
Doutora sentou-se à mesa improvisada como consultório e começou a atender
algumas crianças.
De
cabeça baixa enquanto escrevia disse:
—Próximo!
Foi
quando um arrepio lhe tomou o corpo, e elevando a cabeça, deparando-se com uma
linda menina de cabelos loiros, em pé à sua frente, mostrando-se também surpresa
quando a olhou.
—
Oi querida, como se chama?
—
Meu nome é Bianca.
—
Que lindo nome você tem!
O
diálogo prosseguiu e as duas trocavam olhares peculiares de quem já se conhecia
de algum lugar.
Não
havia pressa na consulta, até que uma caneta foi ao chão e a Doutora abaixou-se
para pega-la. Nesse instante, seus olhos brilharam quando viram o pé direito de
Bianca.
A
sandália deixava à mostra dois dedinhos grudados, como os de sua filha
desaparecida.
Com
a intuição de mãe, era tudo que ela precisava para acreditar que, aquela menina,
era a sua querida filha desaparecida.
Deste
momento em diante iniciou-se uma grande batalha jurídica para obter a guarda da
sua própria filha.
Demorou,
mas após vários tramites, processos e oitivas, finalmente aconteceu o
julgamento.
Consuelo
foi declarada culpada e condenada pelo juiz a cumprir pena de vinte anos de
prisão em regime fechado.
Nesse
momento, Consuelo chora na Penitenciaria Feminina pela falta da filha, do seu
marido e da família.
Bianca,
ainda confusa, tenta se adaptar à nova vida com os seus pais biológicos.
Do pranto de Consuelo e de seus atos,
o único fato digno em sua vida foi o arrependimento.
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