O gigante
Maria Verônica Azevedo
O medo espalhou-se pela vila. Só se
falava no gigante.
Toda semana, na sexta-feira, os
produtores das redondezas se reuniam na praça central da vila, para a feira. O
local era pequeno e por isso as barracas se apertavam lado a lado. Se chovesse,
não teriam qualquer proteção. Também não havia organização prévia. Cada um
expunha seus produtos como achava por bem. Entre as hortaliças e frutas, encontrava-se
de tudo, desde roupas e brinquedos até frangos vivos para serem sacrificados,
ali mesmo, conforme a vontade do freguês. Era uma confusão sonora, porque cada
um anunciava o que tinha a vender, sempre aos gritos.
A notícia quem trouxe foi o Zequinha.
Estava no pasto olhando a criação, quando viu aquele homem enorme caminhando em
sua direção, com os passos pesados das botas que emitiam ruídos secos
assustadores. De repente, a figura
imensa parou e deu um longo bocejo. Em seguida desabou ali mesmo e se ajeitou
no chão para um cochilo.
Um representante do governo local foi
ver de perto e tomando-se de coragem tentou conversar, mas aquela montanha
humana impassível, não esboçou qualquer reação.
Na última semana, durante a feira, o
assunto era o medo de que o gigante destruísse as plantações. Muitos davam sugestões
que se misturavam ao vozerio habitual.
Alguém disse:
— Ele é forte, mas não escuta bem. Não
entende os nossos protestos. Só fica olhando sem nenhuma expressão. Só quer se
aproximar.
Jerônimo, um menino, que devia ter seus
doze anos de idade, ouvia tudo com atenção. Era franzino, vestia simplesmente
com um calção azul desbotado, camisa com as mangas puídas, que já tinha sido
branca, parcialmente coberta por um colete escuro que ele nunca abotoava. Atento a tudo, ele subiu num caixote e
gritou:
— É fácil! Vamos amarrar um guizo em
suas costas enquanto ele estiver dormindo. Como o gigante é quase surdo, não
vai ouvir o guizo e quando estiver se aproximando, poderemos percebê-lo de longe.
Alguém achou que era uma boa ideia, mas
todos se olhavam com expressão de dúvida...
Ouviu-se do meio do
povo uma voz:
— Mas quem vai fazer isso? Disse uma
mulher bastante alterada pelo medo.
— Zequinha tem os guizos que usa com as
ovelhas... Apressou-se em dizer Jerônimo.
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