O
carteiro e a carta
Maria Luiza C.Malina
A pintura
desgastada do velho portão de ferro era a companhia diária que aguardava uma
carta esperançosa que se espaçava a cada dia. O aproximar do carteiro a enchia
de esperança e, ele ao mesmo tempo, esperava por aquele endereço, onde a moça
nos seus 22 anos, cabelos lisos e negros, olhos que brilhavam ao receber uma
encomenda ou, se turvavam num magro sorriso arriscando ao carteiro, seu servo
fiel entregador um “quem sabe amanhã...”
Por trás das cortinas Magda esfregava as mãos
controlando os ponteiros do relógio. No “a
cada dia”, a espera se intensificava. Ouvia um alegre assobiar. Era o carteiro.
Jovem aos 24, universitário, trabalhava para custear os estudos. Sabia que
estaria a sua espera. Abrigava uma grande estima por ela. Imaginava que pela
falta das cartas não era correspondida no amor. Para em frente ao portão
remexendo na pilha de cartas, na esperança de que aparecesse. Percebe o olhar
sutil da janela. Há entrega. Ele encerra o assobio, resolvendo entregar a
correspondência amanhã em mãos. Ao se distanciar cabisbaixo, guarda a carta em
seu bolso.
O aproximar do carteiro, sem o costumeiro canto do
sabiá, intriga Magda. O passo curto acentuava o cansaço do peso contido na
consciência. De longe, lá estava ela, esfregava a mãos no portão. A fervura lhe tomou em pessoa. Precisaria se
tomar de coragem. Não podia mais esconder a carta. Tomou-se de coragem. Estava
aflito. Nada lhe saia da boca, de fôlego “uma carta anônima para seu endereço” foi
o que conseguiu dizer e saiu para a casa seguinte. Não percebeu que cartas lhe caíram da mochila. Queria se afastar o
mais rápido possível. Num segundo suas pernas se afrouxam. Magda o chama “por
favor, qual seu nome, caíram correspondências
da mochila”. Ele se volta aliviado, consegue balbuciar Augusto, enquanto ela
caminha na fantasia da carta anônima.
Dias se passavam e o remorso das seguidas cartas
anônimas, aumentava a sua curiosidade. Precisava parar. Seria descortês
perguntar sobre as mesmas seria invadir sua privacidade ou, o sobre as cartas
pela qual esperava. O seu cavalheirismo, sem ele saber, encantara Magda. Não
havia mais solução. Desvincular-se do trabalho seria a melhor opção. O amor o
delatava pelo olhar.
Magda o aguardava. Uma harmonia a rodeava. O vestido
parecia mais leve. Mastigava uma maçã e sorria. Logo que descansou a mochila no
chão para entregar um farto pacote, ela lhe oferece um copo d’água. Ele mal
consegue engolir a água, acompanhando o sorriso de Magda que lhe estende uma
maçã. Magda destranca o portão para pegar o volume. Olha o remetente. Rasga uma
ponta e constata o contido. As cartas tão esperadas lá estavam avolumadas em
uma só remessa. No remetente uma palavra – Adeus.
Sem demonstrar contrariedade pergunta “há alguma carta
anônima para mim, elas mudaram minha vida” jogando o volume dentro do bueiro.
Augusto assiste a tudo perplexo duvidando, se seria o
momento exato de revelar que era ele o autor das cartas anônimas.
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