Convivência
Maria
Verônica Azevedo
Aline
morava em Botucatu, cidade onde nasceu. Como resultado de muito empenho e
grande esforço, passou no vestibular de Arquitetura. Por isso mudou-se para São
Paulo. Procurando alojamento, alugou um quarto numa casa antiga.
Segundo o
anúncio, ela teria um quarto privativo e direito a utilizar o banheiro do
corredor, compartilhado com os ocupantes de mais dois quartos.
Ao entrar
pela primeira vez no dito quarto com sua pequena bagagem, jogou a velha mala sobre
a cama e olhou em volta a procura de um armário.
Visualizou-o,
com a porta entreaberta, no canto do quarto longe da janela. Ao abri-lo, eles
estavam lá... Uma gata com uma ninhada de quatro filhotes. Pelo forte cheiro e
a atitude da mãe, ela percebeu que tinham acabado de nascer. Os olhos verdes da
gata mãe brilhavam na sombra com uma expressão de alarme e os pelos se
eriçaram. Os filhotes grudados em seus mamilos não se mexiam.
Aline
ficou paralisada, com um misto de nojo e medo.
Não tinha
como recuar. O aluguel já estava pago e ela detestava gatos.
A moça
tinha que pensar rápido. Sem refletir direito, fechou a porta do armário num
impulso e passou a chave. Ela se ajeitaria sem o armário.
Depois de
um instante sentada na beirada da cama tentando se recompor, colocou mãos a
obra. Abriu a mala e começou a arrumar suas coisas em cima da mesa e sobre uma
banqueta que fazia às vezes de criado mudo. Avaliou a situação e decidiu
deixar, dentro da mala, os objetos que usaria com menor frequência. Olhou mais uma
vez para o armário e reparou que a porta era de treliça. Apesar de se perceber
ligeiramente o cheiro, ao menos os gatos teriam um pouco de ar.
No final
do dia se preparou para descansar, na expectativa do dia seguinte que seria
movimentado com os compromissos da nova vida. Com as luzes apagadas, tentava em
vão conciliar o sono, mas a presença dos gatos não saia da sua mente. A noite
foi cansativa. Ela tinha que encontrar uma maneira de contornar a situação até
o final do mês. Levou o dia todo com esse dilema no pensamento.
À noite,
chegou ao alojamento trazendo um embrulho de onde tirou um litro de leite e um
pacote de tigelinhas descartáveis. Era preciso alimentar a gata, para que os
bichos não morressem ali, provocando uma situação ainda mais embaraçosa.
Colocou
leite em uma das tigelinhas, abriu uma fresta da porta do armário e rapidamente
colocou a tigela de leite dentro do armário, fechando imediatamente sem olhar
direito para os bichos.
No dia
seguinte tiraria um tempo para procurar outro alojamento. Enquanto isso
continuaria a oferecer o leite aos gatos.
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