Surpresa no espelho - Sergio Dalla Vecchia

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SURPRESA NO ESPELHO

Sérgio Dalla Vecchia


Era um feriado nacional da proclamação da República do Brasil na cidade de São Paulo.

Rubens acordou calmamente com o seu despertador biológico, comumente utilizado nos domingos, feriados e dias de folga.

Levantou-se sem pressa e dirigiu-se ao banheiro.

Higiene bucal concluída, tomou uma revigorante ducha.

Com a tolha enrolada na cintura, pôs-se diante ao grande espelho embaçado pelo vapor condensado do ar quente e úmido.

Abriu a janelinha basculante, aguardou que as gotículas evaporassem e complementou a limpeza do espelho com rápidas passadas da tolha de rosto.

Enquanto o espelho desembaçava a imagem tornava-se nítida.

A cada nova passada da toalha a imagem  clareava até que atingiu plena nitidez.

Ele, movido pela vida atribulada, não tinha tempo de olhar-se sem pressa.

Nunca havia testado o seu Narcisismo.

Começou a enxergar na nitidez de seu semblante detalhes que nunca havia reparado; algumas pintas, cravos e até umas pequenas rugas.

Mas o que lhe causou maior surpresa foi descobrir que os seus olhos castanhos eram sutilmente esverdeados.

Era tudo que Rubens queria ter; olhos verdes!

Invejava o seu irmão mais velho, que possuindo olhos verdes, conquistava todas as meninas do bairro onde moravam na adolescência.

Encantado com o fato, fixou um olhar penetrante na própria imagem como nunca o havia feito.

Percebeu nesse momento, que os olhos refletindo a alma, estampavam a preocupação constante em manter-se no emprego, a ansiedade na busca de novas conquistas, mas por outro lado brilhavam pelo desejo de aproveitar ao máximo o feriado.

Cantarolando uma canção alegre, barbeou-se, vestiu uma roupa casual e se deixou levar para as ruas.

Encontrou com a namorada e juntos gozaram os predicados do feriado, trocando olhares maliciosos agora mais penetrantes pela beleza dos seus olhos castanho-esverdeados.



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