POR AMOR A LUCIA
Carlos Cedano
Durante dez anos
Marco e Ilda viveram em permanente agonia, com apenas dois anos de idade a
filha Lucia foi raptada e nunca houve pedidos de resgate e as muitas ligações recebidas
se revelaram pistas falsas. Embora cada dia renascesse neles a esperança de uma
boa noticia, ela murchava ao cair a noite, mas no fundo do coração dos pais uma
pequena e teimosa chama de esperança permanecia acessa!
Num dia de
primavera os pais receberam uma ligação da policia que tinha localizado numa residência
de classe media alta uma menina de nome Marina também com doze anos, porém sem
semelhança com os ditos pais. Após longo interrogatório admitiram que
“compraram” a menina de um traficante de pessoas e que forjaram os documentos
de adoção.
A menina chegou ao
lar dos pais biológicos acompanhada da psicóloga Ângela que tinha avaliado seu
estado emocional durante uma semana, ela ficou preocupada com a reação de Lucia
que o tempo todo esteve com o rosto fechado e com um olhar ausente.
O casal recebeu a
filha como a missão de suas vidas: conquistar o carinho da filha e faze-la
feliz. Já para Marina, agora chamada de Lucia, sua nova vida lhe apareceu como nebulosa
e sua reação foi introverter-se respondendo apenas com gestos. Passados seis meses
os pais a mudaram de escola, a nova diretora entendeu a situação que a menina estava
vivendo na anterior onde era vista com curiosidade e não como uma aluna
inteligente e alegre como sempre tinha sido. A diretora sugeriu procurar a
ajuda de um psicólogo, a nova mudança seria para ela e para o casal um fardo
muito pesado sem apoio profissional.
Os pais acharam
válida a sugestão e após pensar bem chamaram a Ângela e ao vê-la novamente,
Lucia esboçou um sorriso que deixou os pais esperançosos.
Seguiram-se muitos meses
de terapia, porém de progresso lento. Ângela estava preocupada, percebia que
Lucia não conseguia desprender-se do amor dos pais que sempre conheceu e abraçar
o amor dos novos. Foi nesta reflexão que Ângela propôs aos pais biológicos uma
experiência ousada: integrar os dois casais em reuniões em que as duas famílias
dialogassem sem rancores nem recriminações, a vida de uma menina amada por
ambos os lados estava em jogo!
Foi um processo
lento e difícil preparar os dois casais: vencer barreiras emocionais e também
as legais que eram rígidas demais. Finalmente com paciência, os problemas foram
sendo superados e as reuniões com a presença de Lucia, já com dezesseis anos, ganharam
um ritmo que parecia encaminhar-se para um final...
Bem, a melhor forma
de contar o fim desta historia é relatar-lhes o que aconteceu numa pequena e
aconchegante igreja do interior de São Paulo. Num domingo ensolarado, com o
interior da igreja parecendo um jardim com flores de todas as cores e formatos e
com um aroma que sintetizava os perfumes de todas elas, se iniciou a cerimonia aos
acordes da Marcha Nupcial de Wagner, foi nesse instante que apareceu Lucia com
sua radiante beleza ladeada por dois
padrinhos que agora considerava seus pais, na frente a esperavam em pé suas duas
mães e o belo noivo, um jovem arquiteto sorridente e orgulhoso!
Nenhum comentário:
Postar um comentário